domingo, 27 de junho de 2010

Concursado não é profissão

Concursado não é profissão
Publicado em 27.06.2010 - Jornal do Commercio - Recife

No país cujo governo federal se orgulha de ter contratado, através de concursos públicos, 500 mil novos servidores em oito anos, está ficando difícil segurar o aprovado que já entra na repartição pensando no próximo concurso, independentemente do que vai fazer, desde que o salário seja maior. Em 2010, todas as instâncias do poder no Brasil devem ofertar mais de 86 mil vagas, alimentando a florescente indústria e gerando um novo tipo de servidor público: o concurseiro.
Segundo a consultora em RH e diretora da Dimensão Consultoria, Edilza Rejane Guimarães, concorrer a uma vaga no setor publico não é ruim. O errado é que muitos jovens, às vezes até estimulados pelos pais, aprendem uma nova profissão: “estudantes de concurso público”. Ou seja: a identidade com uma profissão, a vocação verdadeira, cede lugar ao sonho de necessidade de estabilidade e de garantia de emprego com boa remuneração e segurança.

O problema é que o setor público não está interessado em novos talentos, mas simplesmente repor o contingente de vagas abertas em 20 anos de concurso zero. Nas carreiras de Estado (juízes, promotores, policiais e delegados), o concurso é realização. Mas na maioria das repartições, jovens com especialização e extraordinária formação estão sendo levados a ocupar postos cuja tarefa está a quilômetros de sua capacitação. Resultado: o concurseiro parte para outro concurso. O que poucos percebem é que uma vez fora da carreira por três quatro ou cinco anos, o concurseiro não aprovado no setor público já não estará mais habilitado para o mercado privado na profissão em que se formou na universidade. E aí o sonho acaba.