domingo, 28 de março de 2010

Um close...


“Enquanto não amamos um animal, uma parte da nossa alma permanecerá adormecida.”

(Anatole France)

Vá para perto dos anjos, fique longe dos vampiros

Vá para perto dos anjos, fique longe dos vampiros

Dezenas de pessoas fazem parte de nosso dia a dia. O convívio com elas, porém, nem sempre é fácil. Há relações que nos dão prazer e alegria. Outras são um verdadeiro tormento. Mas sempre podemos escolher nossos relacionamentos ou dar um melhor rumo a eles. Depende apenas de nós

" Ninguém vive sozinho", quantas vezes você já ouviu isso? Centenas? Milhares? De fato, homem algum é uma ilha, mas é exatamente do convívio humano que nascem as grandes alegrias (e também os maiores sofrimentos). Tudo depende do tipo de pessoa e do relacionamento que se mantém com ela. Há indivíduos vampirescos.

Sugam tanto a nossa energia que depois de um bate-papo com eles mais parecemos um zumbi. Há também pessoas legais, bem resolvidas emocionalmente e positivas, que sempre nos inspiram a melhorar. Enfim, há gente de todo tipo no mundo, como você vai constatar a seguir. Não se esqueça, porém, que no seu mundo só entra quem você quiser. Um lembrete: não seja extremamente rigoroso em sua seleção, porque senão você corre o risco de ficar sozinho.

Pense bem, quando você envelhecer, o que realmente terá valido a pena em sua vida? O fato de ter se aposentado em um cargo e com um salário bem bacanas? Ter guardado muita grana para desfrutar de uma velhice em paz? Ter um carro que custa mais de R$ 300 mil? Ter sido um verdadeiro dom-juan ao longo de sua jornada, seduzindo a todos aqueles que ousaram cruzar o seu caminho? Provavelmente, nada disso terá a menor importância.

Quando você olhar para trás fazendo um balanço da sua vida, pode ter certeza de que todas as suas melhores lembranças apenas se tornaram especiais porque foram vividas ao lado de uma pessoa querida. É isso: são as pessoas que convivem conosco e que fazem parte de nossa intimidade que criam os nossos momentos memoráveis, tornando o nosso dia a dia mais leve. São as pessoas e o tipo de relação que mantemos com elas - e esses são os únicos motivos - que podem tornar a nossa vida plena.

Atualmente, todos vivem superocupados e as cidades são grandes demais para permitir que as pessoas gastem um pouco de seu tempo e de sua energia para investir em novas conexões com outros indivíduos em um nível menos superficial. As pessoas estão tão empenhadas em viver sua vida que acabam totalmente desconectadas das outras, mesmo daquelas que lhes são mais próximas e com quem convivem. Você não é uma exceção. Como todo mundo, também perde a oportunidade de experimentar um relacionamento que toque o seu coração, fazendo você se sentir eternamente grato simplesmente pela presença de uma determinada pessoa em sua vida.



Cada vez que isso ocorre, você acaba ficando mais isolado e deixa de conhecer pessoas que poderiam fazer toda a diferença em sua vida. Ao contrário, quando você desfruta de um relacionamento mais profundo com o outro, sente-se recompensado pelo calor desta experiência. É como se fosse privilegiado por fazer parte de um círculo, de um grupo de pessoas, daquilo que os ingleses definiram como community (um grupo de pessoas afins, que se encorajam, convivem, se ajudam e se respeitam). E, afinal, nada melhor do que ter uma comunidade para apoiá-lo, pois é o que torna a sua vida plena.

A base da criação de uma comunidade, no entanto, é a qualidade das relações estabelecidas entre as pessoas que a integram. Em um relacionamento de qualidade, você se sente apoiado, inspirado e é desafiado a dar o melhor de si. Em geral, em seu processo de crescimento pessoal, você tenta naturalmente se relacionar com pessoas positivas, a fim de construir uma relação mais profunda e que envolva uma troca saudável de sentimentos. Muitas vezes, contudo, ocorre exatamente o contrário: algumas das pessoas ao seu redor são verdadeiros vampiros e sugam toda a sua energia, fazendo você se sentir inadequado, desmotivado e também angustiado.

Dentro dessa perspectiva, como você pode avaliar o seu sistema de relações e corrigir as dificuldades, os deslizes do outro e os seus também? Em um relacionamento, como pode consertar tudo aquilo que torna o convívio a dois cansativo e desgastado, melhorando a qualidade dos seus relacionamentos? Essa análise é complexa e envolve muitos fatores objetivos e subjetivos, que não podem ser avaliados de modo superficial. Como você terá de partir de algum ponto, o primeiro passo é verificar, em seu círculo de relacionamentos, se você criou relações que sugam a sua energia ou que o satisfazem. Então, mãos à obra!

Alguns pessoas não acrescentam nada ao outro. Ao contrário, só o fazem se sentir mal, tornando a convivência um pesado fardo. Confira abaixo os tipos mais comuns:

O acusador - é uma pessoa que constantemente o culpa ou a qualquer outra pessoa pelos seus problemas. Em vez de assumir a responsabilidade pela sua vida, prefere culpar os outros.

O reclamão - se lamenta o tempo todo, reclama muito e vive dizendo que tudo está errado com ele. No entanto, não faz nada para encarar os problemas de frente e modificar a sua vida. Como ouvinte, você percebe que rapidamente suas energias são consumidas. Esse tipo de pessoa obtém energia a partir das reclamações e das frustrações que descarrega em você.

O RECLAMÃO SE LAMENTA O TEMPO TODO, RECLAMA MUITO E VIVE DIZENDO QUE TUDO ESTÁ ERRADO COM ELE, MAS NÃO FAZ NADA PARA MODIFICAR A SUA VIDA

O sanguessuga - é uma pessoa que sempre precisa de algo, de alguma ajuda, de uma sugestão, de uma informação, de qualquer outra coisa. E, como vive num estado de "eterna necessidade", as conversas sempre giram em torno dele, deixando a sensação quase física de que ele está o sugando.

O crítico - é uma pessoa perigosa e que sempre o deixa temeroso. Com as suas constantes repreensões e críticas, faz você se sentir péssimo e desconfortável, expondo você e suas ideias ao ridículo na frente dos outros. Frequentemente demonstra não ter consciência de limites. Para piorar, tenta convencê-lo de que as críticas que faz são para o seu bem.

O do contra - esse tipo ameniza ou desafia qualquer coisa que se diga. Tem uma necessidade evidente de ter sempre razão e pode encontrar falhas em qualquer posição ou opinião. É muito cansativo manter uma conversa com ele, pois, no final, não haverá um diálogo, mas apenas um monólogo, no qual a sua tarefa se resumirá somente a ouvi-lo.

O fofoqueiro - é aquela pessoa que passa o tempo falando dos outros pelas costas. Extrai energia daqueles que o cercam usando fatos do que acontece na rua, na praça e em qualquer outro lugar para contar (e aumentar) histórias, opiniões e até os mais recentes escândalos. Ao fazer constantemente fofocas, gera uma enorme insegurança na relação de vocês e na que mantém com os outros, independentemente de perceber isso ou não. Depois de tudo, passa a falar de qualquer outra pessoa, até mesmo de você.

O IDEAL É TER RELACIONAMENTOS DE QUALIDADE COM PESSOAS QUE NOS INCENTIVAM, QUE CONSTANTEMENTE NOS DESAFIAM A SER MELHOR

Se você deseja viver bem, não deve tolerar nem um tipo desses relacionamentos. Em vez deles, deve se cercar de pessoas que possam melhorar a sua qualidade de vida de um modo positivo, pessoas que lhe tragam alegria e satisfação, recarregando as suas baterias. Veja como elas são:

O proativo - está num processo de desenvolvimento pessoal e tenta melhorar a própria vida.


O elogiador - constantemente elogia e dá valor à pessoa com quem se relaciona, valorizando os seus talentos, a sua família e os seus pontos fortes.

O comunicativo - é uma pessoa que assumiu o compromisso de se comunicar de forma respeitosa e não defensiva. Prefere modos de comunicação que aproximam a pessoa em vez de distanciá-la.

O cuidadoso - presta atenção a tudo aquilo que você diz, sem ser crítico, e é consciente daquilo que você precisa para se sentir seguro.


O honesto - é uma pessoa inteiramente dedicada à integridade e à verdade.

O responsável - assume a plena responsabilidade de sua parte na relação e está sempre disponível para reconhecer e gerenciar a necessidade de crescimento da outra pessoa.

Uma vez que as relações que implicam sentimento necessitam de um investimento de tempo e de energia, o melhor a fazer é escolher sabiamente as pessoas com quem você passará o seu tempo. Opte por aqueles relacionamentos que o ajudem em seus objetivos, sendo verdadeiras fontes de inspiração para você.

Para se relacionar com pessoas desse tipo, avalie, uma a uma, aquelas que fazem parte do seu círculo de amizades. Faça sempre os questionamentos:

"Sou capaz de ser eu mesmo ao lado dessa pessoa?"

"Me sinto aceito?"

"Essa pessoa tem uma atitude crítica em relação a mim? Ela me faz sentir julgado?"

"Sinto-me cheio de energia quando estou ao lado dessa pessoa? Ou ela me faz sentir diminuído e esgotado?"

"Essa pessoa compartilha dos meus valores? Tem o meu nível de integridade?"

"Essa pessoa está comprometida com a nossa relação?"

"Me sinto bem ao lado dela?"

O ideal é você ter relacionamentos de qualidade com pessoas que o incentivem, que constantemente o desafiem a ser melhor, que estejam sempre dispostas a fazer e a dar seu melhor para manter o relacionamento com você.

Para começar a construir relações que toquem seu coração, faça uma espécie de inventário das pessoas com as quais convive. Isso ajudará a identificar as pessoas das quais você prefere se manter distanciado, aquelas com as quais pretende se aproximar e conhecer melhor e aquelas que pretende convidar para fazer parte de seu círculo. Também não se esqueça de se autoanalisar, reconhecendo os seus defeitos e procurando se melhorar. Afinal, você também pode estar sendo um "vampirão" e sempre dá tempo para mudar. Boa sorte!

Equipe Planeta

Fonte: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/448/artigo160372-1.htm

Ficar sentado, perigo para a saúde

Segundo um estudo sueco, pessoas que passam longos períodos sentadas, como quem trabalha em escritório, devem se precaver contra a "inatividade muscular". Essa condição, que favorece a ocorrência de obesidade, doenças cardíacas, câncer e diabete, não é sanada com exercícios regulares. Para os cientistas, esses indivíduos devem movimentar-se durante o período de trabalho - por exemplo, indo à impressora ou à máquina de café e conversando com colegas por 5 minutos, após 45 minutos de atividade.

Fonte: Revista Planeta, abril/2010, ano 38, edição 451

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nascer do sol no Recife

Um lindo e maravilhoso nascer do sol no Recife, no dia 24 de março de 2010, entre 5h e 5h30...

Que belas imagens...
A natureza inspira...


O sol aquece os dias e renova as esperanças...


Um dia iluminado revigora a alma...


Que a vida renasça em seu coração, acolhendo o amor, a paz e a fraternidade.

Comunicação celular

Comunicação celular
Por Felipe Mello

Em 1995, quando cheguei à capital de São Paulo, meus pais compraram uma linha telefônica da Telesp. Valor de investimento: R$ 4,5 mil. A telefonia móvel celular em São Paulo tinha sido inaugurada em 1993, mantendo-se por muitos anos como artigo de luxo. A imensa maioria dos brasileiros tinha mesmo de pagar caro para ter um telefone.

Nos dias de hoje, em vez de uma linha fixa, eu e meus familiares compraríamos um chip pré-pago de celular de uma mesma operadora, falando praticamente de graça entre nós. O tempo passou e veio a privatização das telecomunicações, fazendo o valor do ativo "linha telefônica" despencar mais que a máscara de alguns senadores recentemente, confessos surpresos por receberem auxílio-moradia mesmo sem terem tal direito.

Em termos de retorno financeiro, talvez tenha sido um dos piores investimentos que os meus pais tenham feito. Em termos de retorno para o país, alguns representantes públicos também apontam péssimo retorno. No final de 2008, o número de linhas de celulares atingiu 121 milhões de unidades, atendendo a quase 64% da população. Muita gente habilitada para se comunicar.
Fim das referências pragmáticas. Vamos para o campo do comportamento, onde moram as relações humanas.

Há alguns dias vivi mais uma história marcante em uma visita hospitalar. De um lado, uma paciente na faixa dos 60 anos. Do outro, o personagem palhaço que interpreto nas visitas hospitalares, Dr. Raviolli Bem-te-Vi(1). Entre eles, como instrumento protagonista, um telefone celular. Ao cruzar um corredor da unidade de saúde, fui chamado por uma paciente. Ela estava aflita. Queria expressar uma necessidade premente: o desejo de se comunicar com a sua mãe; há dias não enviava notícias sobre a sua saúde e tampouco recebia novidades sobre a saúde materna. Perguntei como poderia ajudar. Ela me respondeu que se eu tivesse um aparelho celular de uma determinada operadora, poderíamos fazer uma ligação gratuita para a casa onde estava hospedada a citada mãe.
O meu celular não era da referida operadora, mas eu menti. A causa me pediu.

Antes do desfecho, uma digressão: as atuais operadoras de telefonia têm nomes absurdamente singelos e curiosos. A primeira empresa brasileira no segmento foi a Brazilian Telephone Co. que, depois de passar por diversos proprietários, foi incorporada, no ano da proclamação da República, à Brasilianische Elektricitats Geselschaft, com sede em Berlim.

A comunicação humana está cada dia mais simplória, menos pelos nomes que levam as empresas, mais pelo valor dado ao verdadeiro ato de se comunicar.

Pedi à paciente que me dissesse o número. Disquei. Quando alguém atendeu, passei o aparelho à ansiosa filha. Após um rápido cumprimento, percebi que a mãe estava do outro lado da linha. A voz da paciente ficou embargada. Os olhos marejaram.

- Mãe, sua bênção. A senhora está bem? Eu estou melhor, rezo pela senhora todos os dias. Quando eu sair vou direto buscá-la. Te amo, minha linda. Fica com Deus.

A conversa foi rápida. Tempo suficiente para acalmar o peito daquelas duas mulheres, separadas por uma distância que ainda não consegui determinar - e, talvez nunca consiga. A paciente era portadora de HIV. Seus filhos não a acompanham durante as sucessivas internações, por desaprovarem o comportamento que a levou à doença. Na solidão que pode existir no ato de ser mãe, aquela mulher buscou abrigo no ato de ser filha.

Poucas vezes na vida o meu aparelho celular foi tão útil. Naquele quarto de hospital público, o objeto estabeleceu real contato celular, unindo por micro-ondas e pelo afeto células de mesma origem.

Na exposição do Centenário da Independência dos Estados Unidos ocorrida em 25 de junho de 1876, Graham Bell demonstrou, pela primeira vez em público, que seu invento falava. E foi o imperador D. Pedro II quem inaugurou o telefone. A uma distância de 150 metros, ele pôde ouvir Graham Bell declamar o famoso verso de Shakespeare: "To be or not to be..." ("Ser ou não ser...", em português). Com o fone no ouvido, exclamou maravilhado: "My God, it talks!" ("Meu Deus, isso fala!").

Talvez se hoje vivessem, o cientista e o monarca humanista dessem outro sentido às suas frases: ser ou não ser humano? Meu Deus, eles falam, mas não se entendem! Tecnologia é meio, não fim.

Qualquer apetrecho material, inclusive dinheiro, é meio, não fim. Coisas que são coisas são fundamentais, mas não chegam nem à porta da morada do que é essencial.


1) Dr. Raviolli Bem-te-Vi é um dos mais de mil voluntários do programa social Doutores Cidadãos, criado e coordenado pela ONG Canto Cidadão.

Felipe Mello
Radialista, palestrante e diretor da ONG Canto Cidadão, fundada para produzir e democratizar informações sobre cidadania e direitos humanos.

domingo, 14 de março de 2010

A força da simplicidade

A força da simplicidade
Publicado em 14.03.2010
Editorial do Jornal do Commercio - Recife


Em terra de cego, reza o ditado, quem tem olho é rei. Em um país marcado por escândalos de corrupção, onde a falta de escrúpulos entope a fonte da qual deveriam vir bons exemplos, atos corriqueiros de cidadãos comuns acabam virando notícia. Como a história do funcionário do Aeroporto Internacional do Recife, Ivaldo Constantino, que encontrou uma frasqueira esquecida, contendo joias no valor de R$ 200 mil.
Ao achar a valise da marca Louis Vuitton, abandonada próxima aos telefones públicos, Ivaldo agiu de acordo com os procedimentos de praxe, acionando a segurança do aeroporto e encaminhando o objeto ao setor de achados e perdidos. Agiu, também, de acordo com a consciência. Nem cogitou “dar uma espiadinha” para ver o que tinha lá dentro. A ética virtuosa é assim, automática. Foi um ato banal de um cidadão de bem, que não seria de espantar ninguém em circunstâncias normais. Se não fosse pela vontade da proprietária de dar publicidade ao fato, talvez nem a própria mãe de Ivaldo viesse saber do “heroísmo” do filho.

A aposentada Luíza Amorim se declarou “maravilhada” ao deparar com Ivaldo, o segurança e a bolsa com suas joias, ainda no balcão de achados e perdidos do aeroporto, pouco tempo depois que se deu conta de que não estava mais com a valise. “Fiquei muito feliz por existir uma pessoa como ele. Vemos na televisão casos assim, mas nunca pensamos que isso pode acontecer conosco”, confessou Luíza, provavelmente se sentindo, àquela altura, recuperada do susto, como alguém de sorte.

Gestos como o de Ivaldo acontecem com mais frequência do que se imagina, mas por natureza, seus protagonistas preferem a discrição. Lembramos apenas dois desses eventos que ganharam as manchetes: em 2007, um motobói de Brasília devolveu uma pasta com US$ 6 mil, encontrada em um shopping, e no ano passado, duas sacolas cheias de dinheiro, pertencentes ao dono de um supermercado, foram encontradas por uma catadora de lixo em São Paulo, e também devolvidas.

O contraste do cotidiano desse cidadão comum, decente, com o cotidiano da passageira agradecida por seu gesto, justificaria, para alguns, uma atitude diferente daquela tomada por Ivaldo. Afinal de contas, para quem pedala todos os dias para chegar ao trabalho, mora numa casa sem reboco e ganha um salário várias vezes menor do que o valor das joias devolvidas, seria possível cair em tentação, e considerar a virada de vida que a posse do alheio proporcionaria – certamente compraria a motocicleta dos seus sonhos, e reformaria a casa, se não se mudasse para outro lugar. Abrir a valise seria como abrir um novo destino. Por que não? O comentário geral dos colegas, que o elegeram como alvo de chacotas depois da divulgação do episódio, é sintomático de um comportamento social manchado por maus exemplos – a maioria deles, vindos de cima. Ouvida pela reportagem do JC, a balconista Andreza Ramos confirmou essa impressão. “Hoje em dia as pessoas só querem se dar bem. Dificilmente vemos um ato honesto assim. Deveriam promovê-lo”, afirmou Andreza.

O que fez Ivaldo, no entanto, foi demonstrar, pela via de um gesto simples e desinteressado, que não poderia agir de outra forma. “Fazemos isso todo dia”, disse ele, sem imaginar o quanto é importante a repetição da honestidade, numa terra em que a desonestidade é banalizada como se não fosse um desvio. Como se a quebra das regras de convivência, o desrespeito das leis e das normas, não fosse grave, ou não merecesse a menor punição.

O contraste maior não é entre Ivaldo e Luíza, unidos pelo destino de uma bolsa com joias, separados por um mar de desigualdades – e sim, entre o auxiliar de serviços gerais que revela conduta baseada em princípios, e o político graúdo envolvido em denúncias de corrupção. Podemos destacar ainda outro contraste, exaltado pela simplicidade de Ivaldo: enquanto os honestos não pedem recompensa, os desonestos creem que serão sempre impunes. Talvez esteja na hora de inverter a moral da história, recompensando a virtude, a força da simplicidade, e punindo a fraqueza daqueles que põem as vistas e as mãos, descaradamente, nas bolsas e nos bolsos da população.

segunda-feira, 1 de março de 2010

RH: Mais ação e menos gás

Mais ação e menos gás
Um dos grandes aliados das empresas na redução da emissão de gases de efeito estufa, o RH parece ainda não ter despertado para esse papel. Mas o que ele pode fazer nessa batalha?

Gumae Carvalho



Maria Aparecida, da TNT: compra de aparelhos de videoconferência e redução do número de viagens dos executivos

Para alguns, foi decepcionante. Para outros, houve alguns avanços. Mas a sensação geral foi a de que se podia avançar mais. Assim se traduz o resultado da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 15), realizada em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca. No embate entre o que os países desenvolvidos queriam e o que os emergentes e pobres pleiteavam, chegou-se ao consenso de que o índice de redução de gases de efeito estufa (GEE) é de 20% até 2020, quando especialistas defendiam no mínimo 25%.

Em termos nacionais, a meta será outra. De acordo com a lei de mudanças climáticas, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de 2009, o país deverá reduzir suas emissões entre 36,1% e 38,9% até 2020. Além dessa, outras leis nas esferas estaduais e municipais também preveem a necessidade de uma atenção maior ao problema do aquecimento global. No Estado de São Paulo, por exemplo, a legislação prevê uma redução de 20% também até 2020. Já na capital paulista, o índice é de 30% até 2012, embora, até hoje, a cidade já tenha reduzido 20% desde que a lei municipal entrou em vigor.

O que se percebe é que o cerco se aperta, no bom sentido. Isto é, há uma pressão forte para frear a emissão de GEE na atmosfera. Como conta Eduardo Petit, diretor de marketing da MaxAmbiental, consultoria que desenvolve programas corporativos de neutralização de carbono, muitas cidades estão criando metas de redução, que serão rateadas, também, entre os segmentos da economia. "Ou seja, mais dia menos dia, isso vai chegar para todas as empresas", diz.

Mas há um problema nas companhias que resolveram, voluntariamente, reduzir suas emissões: a forma como trata essa questão ainda é estanque, como explica Petit. "É preciso que esse tema perpasse toda a organização, e isso só vai mudar quando ele for incorporado à cultura do trabalho e das pessoas. Nesse ponto, o RH tem uma missão muito importante. Não adianta mudar a tecnologia ou etapas de produção e adotar um posicionamento mais 'verde' se não houver uma alteração na rotina e na mente das pessoas", observa.

Carona
Fernando Beltrame, sócio-diretor da Eccaplan, consultoria em desenvolvimento sustentável, explica que a participação do RH em assuntos ambientais ainda é tímida. As principais razões para isso são o baixo comprometimento dos líderes em incentivar a disseminação de valores dessa natureza, a falta de capacitação [do RH] em ferramentas de sustentabilidade e benchmarking socioambiental, e o acúmulo de diversas tarefas.

Mas que ações o RH pode incentivar para ajudar a empresa a reduzir a liberação de CO2? As ações não são poucas se considerarmos atividades que, indiretamente, contribuem para diminuir a emissão. Reduzir o consumo de energia, incentivar o uso de papel reciclado e economizar água são exemplos de iniciativas nesse sentido, pois têm impacto direto em outros setores que, assim, irão emitir menos CO2.

Um passo importante que o RH pode dar é incentivar a empresa a realizar um inventário de emissões de GEE. "Com essa ferramenta, pode-se identificar e priorizar as atividades para reduzir as emissões, definir metas e, também, comunicar a seus clientes e parceiros o comprometimento da companhia em reduzir a sua pegada de carbono", diz Beltrame.

Outra ação, que ajuda a engajar diferentes departamentos da empresa e a identificar oportunidades de projetos ambientais, é a realização de um benchmark ambiental. "Com ela, é possível aprender com experiências de outras organizações, o que serve de suporte para criar um programa ambiental customizado aos objetivos e mercado de sua empresa", acrescenta.

Ricardo Dinato, diretor técnico da Iniciativa Verde, ONG ambiental que por meio do reflorestamento faz a recuperação de áreas degradadas da mata atlântica e a compensação de emissões de carbono, dá outras dicas. Uma delas é incentivar os funcionários a usar mais o transporte coletivo - ou o sistema de caronas, como faz a IBM (veja mais adiante). Outra é adotar o casual every day: ao dispensar o uso de terno e gravata todos os dias, é possível não sobrecarregar o uso do ar-condicionado. E, finalmente, ter em mente, na hora de selecionar um candidato, a distância da casa dele em relação à empresa. Não se quer, com isso, criar uma espécie de discriminação geográfica. Dinato faz questão de deixar isso bem claro e complementa: se dois concorrentes a uma vaga estão empatados, vale a pena pensar em quem vai emitir menos CO2 no trajeto para a companhia.

Luiz Pires, coordenador do programa Empresas pelo Clima, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVCes), acredita que o repasse de informações e a criação de campanhas para uso consciente de recursos como água e energia são ações importantes que o RH pode liderar. "Essa área tem um papel fundamental na disseminação do conhecimento com foco na conscientização dos colaboradores. Pode criar uma cadeia de agentes multiplicadores", conta. "Não se trata de uma redução direta das emissões, mas da criação de uma cultura de baixo carbono. Somente essa 'cultura' possibilitará uma grande redução das emissões em nível mundial", diz.

Home office
O transporte de funcionários, sem dúvida, é um dos grandes vilões quanto o assunto é emissão de GEE. Para diminuir esse impacto, uma alternativa é deixar alguns colaboradores em casa - mas sem demiti-los, diga-se. Em outras palavras: trabalhando remotamente, como fazem a IMB e a Ticket.

Na primeira, o programa de home office existe desde 2005 no Brasil, embora já fosse comum nos EUA antes disso. Para que ele funcione, é preciso, como avalia Gabriela Herz, líder de diversidade da área de RH da IBM, um certo nível de maturidade por parte dos funcionários.

Responsabilidade e confiança mútua são algumas das bases de um programa dessa natureza. Algumas porque, também, podem ser necessários outros itens de infraestrutura, como serviço de banda larga na casa do colaborador, espaço específico para trabalhar, entre outros. A IBM, por exemplo, paga os custos de banda larga, telefone e até reembolsa a compra de mobília, caso o funcionário necessite para criar seu escritório em casa.



Petit, da MaxAmbiental: RH deve tornar o tema comum a toda empresa
Qualquer funcionário pode aderir ao home office, desde que não haja impedimentos, por exemplo: se ele tem de ficar locado na empresa cliente ou se o software que ele usa roda, apenas, na IBM... Apesar dessas restrições, hoje, cerca de mil profissionais trabalham remotamente.

Na Ticket, empresa do grupo francês Accor Services, o programa existe há quase seis anos. Diversas ações de RH foram realizadas, como, por exemplo, a criação de uma célula exclusiva para atendimento aos profissionais que trabalham a distância. Também foi contratada uma consultoria especializada em teletrabalho para dar apoio à área comercial, organizar reuniões de feedback e coaching e preparar os familiares para essa situação.

Mas se não for possível permitir que o funcionário trabalhe de casa, que ele ao menos possa fazer isso em alguns dias. Esse é o espírito do programa Flex Place, também da IBM: o colaborador trabalha dois dias de casa e três na companhia. E se nem isso for possível, não há problema: sempre dá para fazer algo para diminuir a emissão de gás carbônico no percurso até a empresa. Adote a carona! Essa foi a saída encontrada por cerca de 200 colaboradores do Laboratório de Software da IBM. O sistema de carpooling começou no meio do ano passado, depois de a unidade ser transferida para um local mais afastado da cidade.

Patrícia Regina dos Santos e Silva, gerente de qualidade da unidade e voluntária do grupo iloviT, que cuida do bem-estar dos colaboradores, conta que o primeiro passo foi identificar quem tinha interesse em participar dessa iniciativa. O segundo foi criar um manual de conduta do caroneiro. Além de contribuir para o meio ambiente, as caronas ainda ajudam os funcionários a economizar combustível (e dinheiro). "E ainda promove uma maior integração entre eles", complementa Patricia.

Videoconferência
Pegando carona no home office, outra forma de o RH ajudar a empresa a reduzir a emissão de CO2 é incentivando cursos e demais reuniões a distância. No Banco do Brasil, por exemplo, dentro de um programa de ecoeficiência, foram adquiridos equipamentos e incentivada a utilização de vídeo e teleconferências para reduzir o deslocamento aéreo de seus funcionários, importante fonte emissora de GEE.

Rodrigo Santos Nogueira, gerente-geral da Unidade de Desenvolvimento Sustentável (UDS), que coordena as iniciativas voltadas para a gestão ambiental e a cidadania corporativa, conta que apesar de a gestão desse programa estar sob sua responsabilidade, sua implementação e manutenção conta com a participação de outras áreas. Dentre elas, a diretoria de gestão de pessoas, com ações de sensibilização, educação e treinamento; a de marketing, com campanhas de comunicação interna; a de logística, com o monitoramento e a busca constante pela racionalização do consumo de recursos naturais. "Ou seja, cada área ajuda com sua expertise", diz.

E não é apenas o BB que investe na diminuição das viagens de seus executivos. A TNT, da área de transportes, também: desde 2007 ela estipulou como meta a diminuição em 20% dessas viagens a cada ano. Além disso, comprou mais de 150 aparelhos de videoconferência. "Agora, todas as conferências globais de RH da companhia, por exemplo, são feitas a distância", diz Maria Aparecida Lamin, diretora de RH e de responsabilidade social.

Integrante de uma indústria (transportes) que responde por um quinto das emissões de GEE no mundo, a TNT não mede esforços para reduzir as emissões de suas operações e estimular os funcionários a fazer o mesmo em suas vidas privadas. Para tanto, lançou, em 2007, o programa Planet Me, do qual faz parte uma competição mundial que mobiliza todos os seus motoristas: o Drive Me. Trata-se de uma grande disputa na qual quem sai ganhando, também, é o meio ambiente.

Todo ano, os motoristas participam de uma corrida em que são avaliados o consumo de combustível, a capacidade de manutenção do veículo e a emissão de gás carbônico de cada um. Essas provas são realizadas nos países em que a empresa atua e os melhores pilotos, depois, competem numa grande final.

Além de um reconhecimento financeiro, o maior prêmio para os vencedores em cada etapa da competição é o orgulho de passar suas experiências para os demais colaboradores: eles acabam sendo convidados a dar palestras em outras unidades para ensinar seus segredos de manutenção e direção segura - tanto para eles quanto para o meio ambiente.

Conscientização
Também em 2007, a Avon desenvolveu o projeto Viva o Amanhã, para diminuir a emissão de CO2 por meio da modificação das rotas de distribuição de cosméticos no Brasil. A meta era ambiciosa: reduzir 3,4 milhões de quilômetros de percurso de distribuição e a emissão de 12,7 mil toneladas de CO2 anualmente, até 2009. Como resultado, reduziu perto de 17,4 mil toneladas de gás carbônico e 5,8 milhões de quilômetros.

O gerente de segurança, saúde no trabalho e meio ambiente da Avon, Waltencyr Peixoto, conta que, agora, a companhia trabalha em um programa de gestão ambiental suportado por quatro indicadores: redução do consumo de água; redução do consumo de energia; redução da geração de resíduos; e aumento da reciclagem dos resíduos gerados. Segundo ele, para todos esses indicadores, a empresa mantém um plano de trabalho em que são agrupados todos os projetos.

E a conscientização dos funcionários não fica de lado: a companhia dá ênfase especial a esse aspecto, com campanhas internas sobre a importância do uso racional de água e luz - tema abordado durante as reuniões de integração de novos funcionários. E nesse aspecto o RH tem papel fundamental. "A área garante o suporte no processo de educação e treinamento de todos os colaboradores, alinhados com os objetivos da empresa", garante.

Uma prova de que as empresas estão atentas ao fato de a redução do consumo de energia ajudar a diminuir, mesmo que indiretamente, a emissão de CO2 pode ser sentida no aumento da demanda por projetos dessa natureza. Essa é a percepção de Marcos Matias, diretor de building business para a América Latina da Schneider Electric, companhia especializada em gerenciamento de energia.

E como a Schenider evita o desperdício de energia elétrica nos clientes, internamente também não deixa por menos. Dentro de casa, ela conta com um grupo de trabalho que busca a eficiência energética de todas as suas unidades. "E o RH participa ativamente, por meio de campanhas internas mostrando que todos são capazes de consumir menos", conta Matias.



Matias, da Schneider: aumento de projetos de gestão de energia elétrica
Na verdade, todas as empresas, de alguma forma, impactam o meio ambiente com emissão de CO2. "Existe uma metodologia internacional chamada GHG Protocol [Greenhouse Gases Protocol ou Protocolo de Gases de Efeito Estufa], que determina como quantificar as emissões desses gases. No caso de empresas, basicamente as emissões estão relacionadas à energia consumida, ao ar-condicionado, ao lixo gerado, ao deslocamento de funcionários e a emissões oriundas do processo produtivo", enumera Beltrame, da Eccaplan. "Pode-se quantificar, inclusive, todo o impacto ambiental causado pelos produtos, desde a colheita ou a extração de suas matérias-primas, até seu descarte final", diz. Essa metodologia é a chamada análise de ciclo de vida. E é algo que a Natura, entre outras empresas no Brasil, se propõe a fazer.

A empresa de cosméticos, desde 2007, mantém o programa Carbono Neutro, pelo qual assumiu o compromisso de ser carbono neutra e de oferecer aos seus clientes produtos com suas emissões de GEEs totalmente neutralizadas. Para alcançar essa meta, identificou a possibilidade de reduzir suas emissões em 33% até 2011, tendo como base o inventário de 2006.

E tudo o que não é possível reduzir de imediato é compensado pelo apoio a projetos externos. Essa compensação é tanto das emissões provenientes diretamente das atividades da empresa quanto das indiretas. "Vamos neutralizar as emissões referentes a 2008 por meio do financiamento de projetos de desmatamento evitado e de reciclagem atrelados à questão do carbono. No total, vamos compensar 228 mil toneladas de CO2e [dióxido de carbono equivalente, medida padronizada pela ONU para quantificar as emissões globais e que também inclui gases como metano e óxido nitroso], contra uma emissão de 188.051 mil toneladas de CO2e", explica Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura.

Investidores
Para Eduardo Petit, da MaxAmbiental, questões como a redução de GEE têm por trás uma grande mudança de modelo econômico. A crise financeira pela qual o mundo passa reforça a necessidade de reflexão, de uma maior consciência sobre a forma de fazer negócios. Mas será que os investidores passarão a levar mais em conta, na hora de alocar seus recursos, o que as empresas estão fazendo pelo meio ambiente?

Odivan Cargnin, diretor financeiro e de RI da Celulose Irani, lembra que uma decisão como essa é tomada com base em vários fatores. As preocupações ambientais de uma organização podem não ser o fator decisivo, mas podem ajudar na escolha, afinal "ninguém quer investir em algo que não seja sustentável", diz Cargnin.

A empresa em que ele trabalha tem dado um bom exemplo quando o assunto é redução de emissão. Em 2008, a Irani removeu da atmosfera -668.534 toneladas de CO2e. "No mesmo período, as emissões de gases do efeito estufa foram de 17.621 toneladas de CO2e, chegando ao saldo final de -650.913 toneladas. Levando-se em consideração os resultados acumulados de 2006 e 2007, a empresa chegou ao final de 2008 com um saldo acumulado de -1.625.400 toneladas de CO2e", contabiliza. Em outras palavras: graças a um projeto de reflorestamento, ela consegue compensar mais CO2 que emite, e vem liberando menos gases a cada ano.

A intenção, para 2010, é incluir indicadores de metas ambientais na remuneração variável de parte de seus funcionários. Alguns desses indicadores são a redução da quantidade de efluentes resultantes da produção de papel, e a reciclagem de 100% do plástico gerado no processo de reciclagem de papel.

E por falar em remuneração, há dois anos, MELHOR fez uma reportagem sobre empresas que atrelavam parte de seus bônus a indicadores de metas socioambientais. Na época, a Basf, em sua unidade de tintas, contava para o cálculo de PPR dos funcionários a participação em treinamentos sobre a redução de emissões de dióxido de carbono. De lá para cá, esse programa cresceu - embora tenha saído das metas do PPR -, passou a abordar critérios de ecoeficiência e teve seu público ampliado, sendo destinado a públicos diferentes (clientes, parceiros, estudantes, e colaboradores, por exemplo), como informa Sonia Chapman, presidente da Fundação Espaço Eco (FEE), da companhia. "Com esses treinamentos, cumprimos a missão da FEE, que é promover o desenvolvimento sustentável na sociedade por meio da aplicação de soluções e tecnologias em ecoeficiência, educação ambiental e reflorestamento, focando o balanceamento dos aspectos ambientais, econômicos e sociais", diz. Ela conta que os participantes saem "transformados" e tendem a não recair mais num comportamento anterior. "Os resultados mostram que a sustentabilidade requer mudanças no comportamento dos indivíduos e das organizações e, principalmente, na percepção da relação do indivíduo com o meio."

Juliana Justi, gerente de recursos humanos, treinamento e desenvolvimento da Basf para a América do Sul, reforça o papel da educação nesse processo de transformação na empresa. Nesse sentido, ela destaca o Portal de Aprendizado, onde estão disponibilizados todos os treinamentos da companhia. Para participar de cada um deles, basta o colaborador acessar e se inscrever. "Todos os cursos têm como objetivo desenvolver as competências de nossos colaboradores", diz Juliana. Inclusive a competência sobre sustentabilidade.

Ao exemplo dessas empresas interessadas em reduzir suas emissões de CO2, soma-se também a iniciativa de um outro grupo das que participam do Programa Brasileiro GHG Protocol, coordenado pelo GVCes e que é usado para calcular e inventariar as emissões de gases estufa produzidas pelas empresas para subsidiar medidas de mitigação.

No seu primeiro balanço, divulgado em outubro do ano passado, o volume de dióxido de carbono equivalente emitido das 27 empresas que participam do projeto foi de 85,2 milhões de toneladas. Para este ano, ainda é cedo estimar um novo volume, como explica Roberto Strumpf, coordenador do programa: "Algumas dessas 27 empresas já contam com projetos para a redução de emissões de GEE. Por outro lado, muitas delas estão em processo de crescimento orgânico, o que pode resultar em um aumento de suas emissões. Além disso, não temos dados oficiais para as emissões nacionais em 2009. Portanto, é difícil prever qual será o resultado dos inventários de 2009 em relação ao de 2008 ou em relação ao total do país". Uma coisa é certa: seja qual for esse número, esperamos que os exemplos dessas e de outras empresas possam servir de guia para muitas outras interessadas em criar um futuro mais saudável e sustentável. (Colaborou Caroline Marino)

Um dia a menos

Nos EUA, funcionários públicos ganham feriado. E a atmosfera agradece

Um levantamento da consultoria McKinsey revela que os gastos necessários para reduzir as emissões de carbono em 70% serão de, aproximadamente, 810 bilhões de dólares até 2030. Isso equivale a apenas 6% dos investimentos totais destinados às questões globais anuais.

Outro estudo, desta vez feito por pesquisadores da Universidade de Nova York, indica que cada dólar gasto com tecnologias para a redução das emissões pode gerar outros 2,27 dólares na economia do país. E por falar em redução de gasto, ainda naquele país, o estado de Utah pretende economizar cerca de 5 bilhões de dólares e ainda reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera.

Para isso, adotou uma medida, no mínimo, interessante: alterou o regime de trabalho de 17 mil dos 24 mil funcionários públicos, que passaram a trabalhar apenas quatro dias por semana, fazendo da sexta-feira um dia de folga ou um feriado permanente. A economia virá da redução dos gastos com transporte desses funcionários e a redução de gás será da ordem de 12 mil toneladas.

E cuidado com o spam
Além de ser uma praga que invade nossas caixas de e-mails, essas mensagens indesejáveis também contribuem para a emissão de CO2. Não acredita? Pois bem, um estudo feito pela McAfee revela que os spams consomem algo em torno de 33 bilhões de kilowatts/hora (kWh) em ações de envio, processamento e filtragem. Em termos de carbono, isso equivale à eletricidade usada em 2,4 milhões de casas ou às mesmas emissões de 3,1 milhões de carros de passeio usando dois bilhões de galões de gasolina.


A peça que falta

Ambiente de inovação ajuda a empresa a ser mais sustentável, diz Clemente Nobrega.

Voluntariamente, muitas empresas estão investindo em ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEEs). Esse movimento apresenta para a área de RH um novo horizonte de atuação, no entanto, muitas dessas iniciativas ainda não contam com a atuação direta da área responsável pela gestão de pessoas. Mas será que criando ou fomentando um ambiente de inovação a área de recursos humanos também não estaria contribuindo para isso, uma vez que permitiria o surgimento de ideias dos funcionários para melhorar processos produtivos, que ajudariam a diminuir a emissão de GEEs?

Consultor especializado no tema inovação, Clemente Nobrega acredita que as empresas só serão sérias em matéria de sustentabilidade se houver metas e cobrança sobre os vários aspectos que compõem o tema. "Sustentabilidade tem de ser objeto de ação gerencial como custos, market share etc. É verdade que uma cultura fomentadora de inovação ajudaria muito, mas esse é o problema: culturas inovadoras são raras", diz. E por que elas são assim? "Porque falta método para abordar essas questões. O interessante é que essa escassez de inovação acontece pelo mesmo motivo: ausência de processos gerenciais rotineiros para monitorar a inovação. Falta método."

Para ele, as principais barreiras para a implantação de programas dessas naturezas (de inovação e de preservação) se reumem à falta de entendimento do "problema" e das rotas de solução que existem. "Há uma sensação difusa de que temos de ser mais verdes/preservacionistas/inovadores, mas não há método nem ferramentas que levem a isso. Nada ocorrerá enquanto não houver método", frisa o consultor.

Mas será que o conceito de sustentabilidade pode ajudar a empresa a ser inovadora?
Nobrega acredita que inovação é o tema, não sustentabilidade. Precisamos de método porque não somos naturalmente inovadores, ao contrário, somos naturalmente conservadores e superficiais, diz

http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=12791

Liderança: Estimule os colaboradores...

Estimule os colaboradores...
...mas procure o autoconhecimento - só assim você será um gestor mais capacitado, diz Motomura



"Tenho sete crianças e amo vê-las estudando e com energia. Mas, às vezes, preciso levá-las no hospital e não tem remédio. Não quero um hospital de rico, mas decente, que tenha medicamentos e que as pessoas atendam bem e gostem de trabalhar". O depoimento é da parteira Dona Fiorentina, de Alto Paraíso, em Goiás, e mostra a importância de servir as pessoas cada vez melhor. E esse deve ser o grande papel das empresas e, em especial, dos profissionais de recursos humanos, segundo Oscar Motomura, fundador e diretor-geral do Grupo Amana-Key.

Durante a palestra O futuro das organizações: certezas e incertezas, Motomura falou sobre a importância de a organização possuir gestores de RH engajados, que gostem de trabalhar e procurem motivar sempre seus colaboradores. "Uma das grandes qualidades do líder de gestão de pessoas é contribuir para o crescimento de seus colaboradores, e ele só consegue isso quando busca o autoconhecimento", disse.

Segundo o executivo, esse processo de aprendizagem ocorre desde o início da vida e que acontece de formas diferentes, de acordo com cada período de sua existência. Até os sete anos, a criança aprende a pensar e desenvolve o raciocínio abstrato e a capacidade de gratidão às pessoas que lhe ajudam. Dos sete aos 14 anos, passa a ter mais consciência do que sente e de suas necessidades e desenvolve a apreciação estética, ou seja, a capacidade de admirar o belo. E, por fim, o jovem desenvolve o altruísmo e passa a se preocupar com as grandes causas humanitárias, não pensando apenas em seus próprios problemas. Ou seja, ele desenvolve a capacidade de se sacrificar por ideais maiores. "Assim, ele irá trilhar sua trajetória como apresentado no livro O Poder do Mito, do escritor Joseph Campbell, em que o herói deve passar por diversas provas para alcançar seus objetivos", comparou.

Motomura enfatizou, ainda, que o gestor de RH deve buscar o desenvolvimento contínuo da capacidade de seus colaboradores, estimulando a criatividade, a motivação pelo trabalho e o engajamento em relação à empresa. "Devemos desenvolver o FIB (Felicidade Interna Bruta) nas corporações ao invés do PIB (Produto Interno Bruto). É preciso estimular os funcionários a participar mais do dia a dia da corporação, a ter uma visão geral sobre as atividades realizadas na empresa e a trabalhar em equipe para que o FIB aumente".

De acordo com o diretor-geral, as pessoas só aprendem e buscam se aprimorar quando estão preparadas para isso. Como exemplo, ele citou o livro Ishmael, de Daniel Quinn, em que um jovem chamado Ismael vê um anúncio no jornal com a curiosa chamada: "Mestre procura discípulo. Discípulo precisa querer mudar o mundo". Intrigado, ele responde ao anúncio e quando vai ao encontro de seu mestre tem uma bela surpresa: trata-se de um gorila. A partir daí, a narrativa mostra a visão do gorila sobre como o jovem aprende, contribuindo para que o leitor perceba que há diferentes formas de se ver e de se pensar a respeito do mundo. O que mostra que só quando o aluno está pronto para aprender, o mestre aparece em sua vida. "É preciso procurar se desenvolver, tornar-se um gestor mais capacitado para servir melhor. Estamos na era do serviço, por isso, é preciso servir com coração gentil e alma", finalizou.

http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=12696