quarta-feira, 21 de abril de 2010

Problemas pessoais no trabalho

Problemas pessoais no trabalho

Tom Coelho


“Enfrente os problemas ou será destruído por eles.”(Rimpoche)


O relógio toca as oito badaladas matinais, você registra sua presença no livro ou ponto eletrônico e automaticamente todos os seus dilemas pessoais são trancafiados no armário do vestiário. Agora você pode iniciar a jornada de trabalho com toda energia e foco em suas tarefas, as quais serão desenvolvidas com elevada produtividade. Contas vencidas, parentes enfermos e desilusões amorosas voltarão a habitar seus pensamentos apenas ao final do expediente.


O quadro acima é tão surreal quanto alguns empregadores gostariam que espelhasse a realidade. A publicitária alemã Judith Mair publicou em 2003 um livro intitulado “Chega de Diversão”, depois rebatizado de “Chega de Oba-Oba”, em que sentencia que trabalho não tem que ser sinônimo de prazer, o ambiente profissional não é lugar para amizades e a jornada deve terminar na empresa, sendo proibido levar serviço para casa.


O fato é que colocar uma linha divisória entre a vida pessoal e a profissional pode ser possível num mundo prussiano, mas é absolutamente impraticável dentro da cultura latina. Razão e emoção coexistem em nosso ser, a cada instante, onde quer que estejamos. Assim, o que podemos fazer é minorar o impacto de nossos problemas pessoais dentro do espaço corporativo, buscando conciliar nossos interesses com os da empresa.


Quando este equilíbrio deixa de ser atingido, as conseqüências são imediatas. Primeiro, o estresse, que em grau mais acentuado pode levar ao burnout. Em paralelo, surge o presenteísmo, a síndrome de estar presente no ambiente de trabalho, porém absolutamente desconectado das atividades profissionais, afetando drasticamente a produtividade. Mais adiante, vem o absenteísmo, a ausência física da empresa motivada seja por desestímulo, seja por doenças clinicamente identificadas.

Mas então, como lidar com estes infortúnios do cotidiano pessoal sem comprometer a posição na empresa? Algumas sugestões:


1. Siga pelo caminho do meio.Evite o isolamento, deixando de compartilhar seus problemas com as pessoas mais próximas. Passamos ao menos oito horas envolvidos com o trabalho. Se você não conversar com alguém, sua cabeça pode virar uma panela de pressão prestes a explodir! Entretanto, evite também a exposição demasiada. Você não precisa dividir seus anseios com todos ao redor, até porque no ardiloso ambiente corporativo há muitas pessoas à espera de descobrir suas fraquezas para lhe atacar. Seja seletivo.


2. Comunique. Seu superior hierárquico não tem bola de cristal para saber o que está se passando e pode avaliar sua apatia como desinteresse ou até desleixo. Informe-o, ainda que superficialmente, que está passando por uma fase difícil, mas que está em busca da superação.


3. Seja discreto.A menos que seu espaço seja delimitado por uma sala privada, com boa vedação acústica, onde seja possível trancar a porta, cuide para que seus assuntos pessoais sejam tratados reservadamente. Assim, afaste-se para falar ao telefone ou travar aquela batalha verbal comum a muitas discussões. Se o embate for pelo computador, certifique-se de fechar a tela que contém o diálogo ao sair do ambiente. E jamais, jamais chore em público. Alguns serão solícitos e lhe oferecerão carinho e apoio. Mas outros não se esquecerão deste seu momento de fragilidade. E usarão isso contra você no futuro.


4. Peça ajuda.Se o problema é de ordem financeira, procure obter um adiantamento ou um crédito consignado para solucionar o problema. Já se for uma questão de saúde, busque tratamento. Se enfermo, evite a automedicação e agende um médico. Se diante de dependência química, comece uma terapia. E tenha no RH ou Departamento de Saúde Ocupacional de sua empresa um aliado.


5. Afaste-se para cuidar dos problemas.Se o seu desempenho está sendo prejudicado e seus problemas não estão sendo resolvidos, o melhor a fazer é se licenciar. Antecipe parte das férias para direcionar toda a atenção na solução do que lhe aflige. Em última instância, vale até considerar um pedido voluntário de demissão, negociando as condições da saída.


Se com você está tudo bem, mas seu colega de trabalho notadamente está passando por um período turvo, use da empatia e coloque-se por um instante no lugar dele, procurando ajudá-lo. Aconselhamento e orientação podem fazer toda a diferença. Afinal, lembre-se de que um dia os papéis poderão estar invertidos.


http://www.revistasermais.com.br/artigos.asp?cod_site=0&id_artigo=8&keyword=Problemas_pessoais_no_trabalho

domingo, 18 de abril de 2010

Dicas de português - Dad Squarisi

Dicas de português

Dad Squarisi

Chique que só

Adimar Jesus da Silva, o maníaco de Luziânia, estava preso. A Justiça o soltou. Em liberdade condicional, fez e aconteceu. Tirou a vida de seis rapazes. A decisão do juiz mereceu críticas a torto e a direito. O presidente do Supremo Tribunal Federal também se pronunciou. "É desvio como sói acontecer em casos graves", disse Gilmar Mendes. Ops! Sói acontecer? Que diabo é isso?

Trata-se do verbo soer. O sofisticado quer dizer ser comum, costumar, ter por hábito. Como conjugá-lo? Ele joga no time dos preguiçosos. Defectivo, não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo. E, claro, não há filho sem mãe. O presente do subjuntivo, derivado da pessoa ausente, não existe. No mais, flexiona-se igualzinho a moer: tu móis (sóis), ele mói (sói), nós moemos (soemos), vós moeis (soeis), eles moem (soem); eu moí (soí), ele moeu (soeu), nós moemos (soemos), eles moeram (soeram). Etc. e tal.

Vamos combinar? Sua Excelência usou um verbo pra lá de chique. Se quisesse ser mais simples, bastava dizer: É desvio que só costuma acontecer em casos graves.

Eis a questão

Adimar é pedófilo ou pederasta? A dúvida assaltou os jornalistas que cobrem a tragédia de Luziânia. Com razão. As duas palavras pertencem à mesma família. Pedagogia e pediatra também são membros do clã. Os quatro têm um elemento comum. É ped. Do grego paidos, ped- quer dizer criança. Pedagogo é o condutor de crianças. Pedófilo, o amante de crianças (antes, não tinha o sentido negativo que tem hoje). Pederasta, o louco por contato sexual entre um homem e um rapaz bem jovem. Pediatra, o médico que trata de crianças.

Moral da história: no início da trajetória criminosa, Adimar abusou de crianças de 7-8 anos. Foi condenado por pedofilia. Solto, atacou rapazinhos de 16-17 anos. Agiu como pederasta.

Com ou sem?

Ele matou os jovens a pauladas. Ocorre crase? Ou não? Crase é o casamento de dois aa. Um é a preposição. O outro, em geral, o artigo. Pauladas é substantivo plural. Se estivesse acompanhado, o artigo seria as. A contração, às. Em "a pauladas", o plural não tem vez. Conclusão: sem artigo, nadade união. Xô, acentinho!

Lé com lé, cré com cré

É lei. Depois de idas e vindas, vingou a decisão da Anvisa. Farmácia não é supermercado. Não pode, por isso, expor remédios em prateleiras e gôndolas. A razão: evitar a automedicação. Além de protestos, a determinação trouxe dor de cabeça. A reforma ortográfica alterou as regras do hífen no prefixo auto? Alterou. A dissílaba está submetida à norma geral. Pede o tracinho em duas oportunidades. Uma: quando seguida de h. A outra: quando duas letras iguais se encontram. No caso, o o (auto-higiene, auto-observação). No mais, é tudo colado: automedicação, autodidata, autoaprendizagem.

Loucura à solta

O mundo enlouqueceu. Terremotos no Haiti, no Chile, no México, nos Estados Unidos e, agora, na China. Geólogos veem a tragédia com naturalidade. "O atrito das placas tectônicas provoca abalos sísmicos", explicam eles. A saída? Construções antissísmicas. Assim, com ss pra manter a pronúncia de sísmico. Sem a duplinha (antisísmico), o s soaria z como em casa, mesa, camisa. Nada feito.

Leitor escreve

Celito M. Brugnara, de Porto Alegre, escreve: "Tempos atrás, já havia me comunicado com a senhora a respeito da coluna `Pérola legislativa´, publicada no jornal O Sul e também em outros jornais e no Blog da Dad. Na oportunidade, informei que solicitara à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul a alteração da Lei n° 11.369, de14.9.99, que obriga seja afixado aviso perto de todos os elevadores. Trata-se deste texto cheio de erros: `Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar´. Deu certo. Dias atrás, o diário oficial do estado publicou nova lei, alterando aquela. Ei-la:

Art.1°- O art. 1° da Lei n° 11.369, de 14 setembro de 1999, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1° - Os prédios públicos e privados dotados de elevador são obrigados a manter afixadas, em suas portas externas, placas de advertência aos usuários desses equipamentos com a seguinte mensagem: Atenção: Antes De entrar, verifique se o elevador está parado neste andar.
Art. 2° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio Piratini, em Porto Alegre, 5 de abril de 2010.

Recado
"Gritar é ruim para a voz, mas é bom para a alma."
Conor Oberst

Eventos máximos

Eventos máximos
Publicado em 18.04.2010 - Jornal do Commercio

Alberto Dines

Na linguagem enganosa e politicamente correta dos governantes é proibido falar em catástrofes e devastações. Evento máximo é mais apropriado, científico: não assusta, passa uma sensação de segurança.

O evento máximo desta semana lembra uma Pompeia com dimensões continentais. A espessa nuvem de cinzas expelida por um vulcão subterrâneo na Islândia nesta quinta-feira paralisou o tráfego aéreo no norte europeu e produziu um efeito-dominó com desdobramentos imprevisíveis e impensáveis. Dependendo dos ventos e da violência do espasmo geológico pode estender-se além do weekend, por muitas semanas. Ou meses.

A modernidade é uma nova religião centrada nos dogmas da perfeição e da infalibilidade: não se aceitam surpresas nem lapsos. Admitir o caos é heresia. Mesmo quando os acólitos-robôs anunciam que "o sistema caiu" e os crentes enfileirados diante dos guichês começam a consultar os relógios ou imprecar contra a satânica imprevidência dos sacerdotes intermediários.

Há 1931 anos, em 24 de Agosto de 79, a lava e as cinzas emitidas pela erupção do Vesúvio (inativo há 1.500 anos) começaram a deslizar em direção da refinada Pompeia. Há fortes evidências de que tudo aconteceu rapidamente: as escavações iniciadas em meados do século 17 indicaram que parte da população, pelos menos os três mil mortos, acreditou que o "sistema não cairia" e continuou seus afazeres e prazeres.

Em 2007 a Islândia foi apontada como a nação mais desenvolvida do planeta graças a sua posição no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU e no ranking dos PIBs: o seu era o quarto maior per capita. Ano seguinte, quem diria, o "sistema caiu" - o país estava quebrado e politicamente paralisado.

Evento máximo, médio ou mínimo? Influenciados pela ficção científica estamos construindo uma fantasia tecnológica na qual os sistemas são imbatíveis e indefectíveis, proibidos de "cair". A não ser quando os grandes sacerdotes da indústria, sobretudo automotiva, reconhecem seus pecados, batem no peito e admitem erros de fabricação.

Não há recalls para compensar estragos produzidos por "eventos máximos". No entanto, as grandes seguradoras e instituições de resseguros já começaram a preocupar-se com a recorrência das calamidades. Os prejuízos causados nas primeiras 36 horas de erupção islandesa podem afetar drasticamente o negócio do transporte aéreo mundial.

A facilidade de deslocamentos é um dos esteios da globalização, sem mobilidade o sistema "cai", não se sustenta. O ser humano dito moderno não sabe recolher-se, ao contrário, está sendo treinado para zanzar, perambular, certo de que o seu passaporte é uma espécie de curriculum vitae ou manual de instruções para fazer sucesso. Imagina-se pássaro – se parar de bater asas e voar, cai.


Além da fumaça e das cinzas, o desconhecido e impronunciável vulcão escondido debaixo da Geleira Eyjafjallajokul, está emitindo algumas mensagens muito simples e claras: eventos máximos podem gerar eventos extraordinários. Nada a ver com o Apocalipse e o Juízo Final, o sistema religioso também caiu, está em frangalhos.

Neste momento, o espelho retrovisor pode oferecer soluções mais inovadoras do que a telinha do computador.

» Alberto Dines é jornalista

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O que fazer após a aposentadoria?

O momento da aposentadoria é um marco na vida das pessoas. Merece cuidado e planejamento. Exige dinamismo e visão de futuro, para que a condição de "inativo" não seja fonte de depressão, arrependimento e vazio existencial.

Há muitas maneiras de tornar a aposentadoria o início de novos desafios, a oportunidade de incrementar projetos adormecidos, de realizar sonhos adiados.

Conheça um pouco da história do poeta, compositor e cantor Xico Bizerra, que se aposentou no cargo de Inspetor do Banco Central e resolveu investir no projeto Forroboxote.

Muito interessante e inspirador.

Visite aqui: http://www.forroboxote.com.br/assuntagem.html

OUVIR OS MOTIVOS DO CORAÇÃO...

OUVIR OS MOTIVOS DO CORAÇÃO...

Quantas vezes nos sentimos perdidos e o coração nos resgatou? É ele que nos mostra o amor tão procurado e que nos indica tudo o que precisamos para sermos felizes.

E, por mais que isso incomode, ele está sempre certo. Não escutá-lo é dar as costas para a realização.

Tonalizadas pelo coração, as paisagens mais sombrias assumem matizes brilhantes e coloridos; os eventos do cotidiano tornam-se especiais; e o ambiente a nossa volta transforma-se na habitação da felicidade...

É a força irresistível emanada pelo coração que nos inspira as melhores atitudes.
A filtragem do coração faz com que paixões descontroladas se transmutem em sentimentos nobres e construtivos.

Com o seu toque, ele revela o essencial em tudo o que existe.

Quando permitimos que o encantamento do coração invada por inteiro o nosso viver, tornamo-nos cativantes, pois o magnetismo mágico irradiado por tudo o que fazemos, pensamos e dizemos fascina a todos que encontramos.

Tudo o que tem a marca do coração dá certo.

As palavras que nascem no coração conseguem estabelecer uma comunicação perfeita, pois atingem diretamente a alma das outras pessoas.

O coração nos conduz com segurança ao nosso destino. Basta confiar nele, pois só os seus olhos enxergam para além dos horizontes imediatos.

O coração sabe que podemos realizar os nossos sonhos. Ele conhece tudo aquilo que mais desejamos. Por isso, a cada instante, ele nos dá a força para continuarmos lutando...

O coração traz dentro de si todos aqueles a quem ama, sem desejar dominar ninguém. Para ele, não existe posse ou manutenção, pois o amanhã é apenas esperança; e também não existe melancolia ou lamentação, pois o passado é tão somente uma lição. Para o coração só existe o agora. Por isso, ele apenas ama, e isso é tudo o que sabe fazer...

As razões do coração são as mais doces. O que é insignificante aos olhos do mundo, o coração considera importante. Para ele, uma flor é um tesouro; o orvalho é uma benção; um sorriso é a beleza em sua forma mais perfeita; e uma hora ao lado de quem se ama é igual a mil anos.

O coração é fiel às leis que regem o universo e à harmonia presente em tudo o que existe.

A sabedoria do coração pode parecer tolice, pois ela se apóia em princípios muito simples. Em sua singeleza, porém, está a cura para todos os males do homem e do mundo.

O coração é infalível, porque não julga os outros pelas aparências, mas conhece por inteiro o processo de cada um.

Para o coração o melhor momento é o momento oportuno. Assim, ele o espera com tranqüilidade e confiança, pois conhece a mecânica da vida, que privilegia apenas quem está no caminho do bem...

Ao coração só interessa seguir a sua própria natureza. Para ele, prêmios e castigos não fazem sentido algum.

O coração jamais é egoísta, volúvel ou desrespeitoso, e a sua alegria está em ser verdadeiro e puro.

O coração é sempre o mesmo. Ele não envelhece, nem se deixa envolver por angústias e perturbações.

O coração é algo indestrutível. Nada pode macular a sua essência, pois ele basta a si mesmo.

O coração determina o curso de nossas vidas. Seguir ou não esse curso é algo que nos cabe decidir. É bom lembrar, contudo, que ele não é responsável por nossas escolhas erradas.

O coração é o sublime legado de Deus para cada um dos seus filhos. Por maiores que sejam os descaminhos, ele está sempre lá para orientar; por piores que sejam as dores, ele está sempre disposto a consolar; e por mais longa que seja a jornada, ele estará sempre presente para trilhá-la conosco.

Ouvir o coração significa atendê-lo, mesmo sem entender completamente os seus motivos...

Emerson Aguiar
Mestrando em Filosofia

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amizade

"Quem não tem amigos abre espaço para uma existência vazia que, frequentemente, pode levar a estados psicológicos negativos, como a depressão, a angústia, a ansiedade e a tristeza originadas da solidão extremada."


Gabriel Chalita, do livro A pedagogia do amor

A importância da ética na formação de recursos humanos

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS



São freqüentes as queixas sobre falta de ética na sociedade, na política, na indústria e até mesmo nos meios esportivos, culturais e religiosos.

A sociedade contemporânea valoriza comportamentos que praticamente excluem qualquer possibilidade de cultivo de relações éticas. É fácil verificar que o desejo obsessivo na obtenção, possessão e consumo da maior quantidade possível de bens materiais é o valor central na nova ordem estabelecida no mundo e que o prestígio social é concedido para quem consegue esses bens. O sucesso material passou a ser sinônimo de sucesso social e o êxito pessoal deve ser adquirido a qualquer custo. Prevalecem o desprezo ao tradicional, o culto à massificação e mediocridade que não ameaçam e que permitem a manipulação fácil das pessoas.

Um dos campos mais carentes, no que diz respeito à aplicação da ética, é o do trabalho e exercício profissional. Por esta razão, executivos e teóricos em administração de empresas voltaram a se debruçar sobre questões éticas. A lógica alimentadora desse processo não é idealista nem "cor de rosa". É lógica do capital que, para poder sobreviver, tem que ser mais ético, evitando cair na barbárie e autodestruição. São os próprios pressupostos da disputa empresarial que forçam a adoção de um modelo mais ético.

O individualismo extremo, muitas vezes associado à falta de ética pessoal, tem levado alguns profissionais a defender seus interesses particulares acima dos interesses das empresas em que trabalham, colocando-as em risco. Os casos de corrupção e investimentos duvidosos nas empresas públicas e privadas são os maiores exemplos do que estamos dizendo.

Leia mais aqui: http://www.alencastro.pro.br/a_importancia_da_etica.pdf

domingo, 11 de abril de 2010

O pecado de Ícaro

O pecado de Ícaro
Publicado em 18.03.2010 - Jornal do Commercio

Valdeblan Siqueira
Outro dia, a caminho do trabalho, avistei ao longe um menino empinando pipa. Trajava bermuda bege e camiseta vermelha. Daquela distância observei que tinha os cabelos tingidos de branco. Em período carnavalesco é comum ver, nos semáforos, garotos com os cabelos pintados, ora de vermelho, ora de outra cor. Naquele caso, a cor era branca. Imediatamente, lancei mão de um paradigma fácil e precipitei um juízo de valor. Usando uma metralhadora moralista, detonei, em pensamento: menino vadio. Deveria estar na escola. Onde estarão seus pais que não cuidam de sua educação! Ao me aproximar ainda mais, verifiquei que seus cabelos eram ralos. Ao final, uma surpresa: o menino contava com pelo menos 70 anos de uma juventude eternizada. Sob seu comando havia uma pipa que, na outra extremidade, empinava seu espírito, devolvendo-lhe a alegria de viver. O que me fez lembrar Domenico De Masi: o ócio não é só preguiça e vadiagem. Pode ser criativo.

Já pelo retrovisor observei que o velho menino continuava com o olhar voltado para o firmamento. Mas não cometera o pecado de Ícaro que, segundo a mitologia grega, e ignorando as recomendações de seu pai, voara rente ao sol, precipitando-se sobre o mar. Ao contrário de Ícaro, seus pés descalços estavam cravados no chão de terra batida. Quem sabe buscava a harmonia perdida entre o céu e a terra. A direção do seu olhar me induziu a pensar que talvez estivesse reclamando das nuvens que têm trazido chuvas inclementes para os irmãos do Sul e do Sudeste. Pedindo, talvez, "pra chover, mas chover de mansinho". Os pés no chão indicavam que não atribuía a responsabilidade a inocentes nuvens que costumam desenhar coisas bonitas e fazer sonhar os poetas. Talvez estivesse recordando a sabedoria popular, quando diz que, "quem semeia vento, colhe tempestade". Os recentes registros de desajustes no clima e de catástrofes naturais advertem que estamos colhendo frutos de um desenvolvimento descomprometido com a preservação do meio ambiente.

Empinar é verbo transitivo direto. Para a criança, o complemento necessário é e será sempre uma pipa. Para quem vê, interessa a paisagem integrada pela ação e pelo agente. Para quem empina a pipa, pouco importa a forma nominal ou verbal, mas a magia do momento, contagiando quem a tudo assiste. Indiferente à gramática, o velho, o menino, o velho menino, continuava no meio de uma rua sem calçamento, bailando e encantando, porque encantado. Seus dedos puxavam ritmicamente uma linha que provocava a evolução da pipa. Poder mágico de usar equilibradamente a natureza e manter no ar o objeto de sua criação. Progresso que não esquece a humanização. Seu semblante exprimia uma existência serena e feliz. Nele a prova de que a riqueza é meio e não um fim. O trabalho não pode derreter as asas do espírito e da criatividade. Sintonia fina entre natureza e cultura que não nega o valor dos avanços científicos e tecnológicos, mas supõe o uso consciente dessas ferramentas. O pecado não está em querer voar, mas em não fazê-lo consciente e responsavelmente. Sonhar sonhos impossíveis. E pisar no chão para realizá-los. Viver a vida. Intensamente. No velho menino, uma experiência estética, lúdica, rítmica e aerodinâmica. Mas também cinética, holística e espiritual. Quiçá tenha sido assim, brincando com pipa, o despertar para a ciência do garoto Santos Dumont. Coisa de menino, querer voar. Próprio do adulto, controlar o voo. Determinação e responsabilidade. Como estimular esse diálogo sem anular papéis? Empreendedorismo, inovação, inteireza de caráter e alegria de viver. A excelência não dispensa a virtude do trabalho e da disciplina. Menos ainda as virtudes do amar e do amor. Assim, juntinhos, verbo e sentimento.

» Valdeblan Siqueira é auditor fiscal de tributos da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco e diretor da Escola de Direito da Faculdade dos Guararapes

Verdades encenadas


Não é de hoje que somos atraídos por jogos proporcionados pela encenação da vida humana. Basta lembrar as tragédias representadas pelo teatro grego, nos longínquos séculos 5 a.C. e 4 a.C., e as arenas da Roma Antiga, onde gladiadores se enfrentavam até a morte para entreter e divertir o público. A sedução quase primitiva desse tipo de espetáculo sempre mobilizou espectadores, seja por identificação ou pelo poder de decidir o destino dos players. Nas arenas romanas, bastava levantar a mão para salvar a vida do lutador. Já no século 21, com a ascensão tecnológica e o boom dos reality shows, na versão pós-moderna do jogo da vida real, é o telefone ou a internet que determina a sobrevida no jogo.

Veja matéria completa no endereço:

http://www2.livrariacultura.com.br/culturanews/rc33/index2.asp?page=capa



Abraçando a imperfeição...

ABRAÇANDO A IMPERFEIÇÃO.........

(Texto recebido sem os créditos do autor)

Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, lingüiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Baby, eu adoro torrada queimada..."

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:

" - Companheiro, sua mãe teve hoje, um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou um melhor empregado, ou cozinheiro!"

O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Essa é a minha oração para você, hoje. Que possa aprender a levar o bem, o mal, as partes feias de sua vida colocando-as aos pés do Espírito. Porque afinal, ele é o único que poderá lhe dar uma relação na qual uma torrada queimada não seja um evento destruidor."

De fato, poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos e com amigos.

Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio. Veja pelos olhos de Deus e sinta pelo coração dele; você apreciará o calor de cada alma, incluindo a sua.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.

Com parque e sem estresse!

Com parque e sem estresse!
Publicado em 11.04.2010 - Jornal do Commercio


Sair de casa para comer em família é sempre a maior diversão. Mas exige algum planejamento. Afinal, encontrar um restaurante que consiga agradar do caçula fastioso à tia light não é o que se possa considerar uma tarefa fácil. Para os comensais crescidinhos, os critérios de seleção são estritamente matemáticos. Um cardápio tão acertado na coluna da direita quanto na da esquerda é tudo que se quer. Se o serviço for ágil, melhor ainda. O lugar é promovido a éden, sem tirar nem pôr. Já para o público infantil, a escolha não se pauta por chefs, preparos, nem ingredientes. Muito menos por preços. Parquinho é a única coisa que importa.
Sem balanço, nem escorrego por perto, não tem acordo: a refeição vira um inferno. O pior é que chateação infantil é algo altamente contagioso. Não demora nada para que toda a família esteja louca para pedir o cafezinho e acabar com o tormento. Uma agonia que pode, aliás, tende a fazer vítimas nas outras mesas do recinto.

Sim, porque nada parece ter mais importância quando se está num restaurante que a vida alheia. Para alguns (eu arriscaria até dizer que para muitos), é como se a dinâmica familiar da mesa ao lado fosse deveras mais apetitosa que o menu. Ainda mais quando tem criança na jogada.

Acho meio cruel essa mania que a humanidade tem de julgar os filhos alheios. Por que será que criança só estrebucha no chão no meio da rua? Se não for para regozijar os passantes, há de ser para envergonhar pai e mãe. Geralmente, o plano é matar os dois coelhos com uma caixa d’água só, como diria Valentina. Sem audiência, não há espetáculo.

E público é o que não falta em qualquer praça gastronômica que se preze. Por uma ironia qualquer do destino, tem sempre um patrulheiro da moral e dos bons costumes comendo na vizinhança quando a mesa está repleta de terroristas mirins. Quando sou eu que estou tomando conta da fronteira entre maloqueiros e chatos, sempre fico me perguntando: como pode alguém deixar que a intolerância vença a boa vizinhança?

É verdade que criança chata e mal-educada não é lá muito cativante. Mas também é preciso que se diga: adulto azedo e de mal com vida definitivamente não é difícil de achar por aí. Por mais que um ou outro torçam o nariz, não tem jeito: criança faz bagunça, suja o chão, faz melequeira, enche o mundo de perna... e de graça.

Por isso que sou adepta dos restaurantes “amigos da criançada”. No meu juízo funciona assim: se tem parque, há de haver tolerância. Quem não quiser zoada, que vá comer à luz de velas em outra vizinhança. Pode ser um parquinho mixuruca, ou um complexo de entretenimento infantil, não importa. Basta um balanço sozinho ou um escorrego surrado que seja, para a criançada curtir deveras a programação gastrô da família.

Mas, como tudo na vida exige estratégia, aí vai uma dica: quanto mais superlativo o parque, mais modesta a refeição dos pequenos. Apetite de criança é sempre inversamente proporcional à qualidade dos brinquedos disponíveis nas instalações do restaurante. Se papai e mamãe querem comer sossegados, o “parquíssimo” é uma boa opção. Mas os pequenos têm que sair de casa comidos. E nem adianta apelar para a clássica tortura do “parque-só-depois-de-comer”. Chega a ser ruindade. Melhor que criança cevada é criança feliz. Uma trelinha de vez em quando não faz mal a ninguém. Para agendar as próximas farras deliciosas em família, aí vão algumas sugestões de cenários interessantes para todas as idades.

Entre Amigos, o Bode – Rua da Hora, 695, Espinheiro. Fone: 3222-6705

Bugallo – Avenida Rui Barbosa, 1047, Graças. Fone: 3081-6555

Habib’s – Avenida Conselheiro Rosa e Silva, 901, Aflitos. Fone: 3427-4265

Maricota - Avenida Santos Dumont, 544, Aflitos. Fone: 3244-7777

Oitão – Rua São Vicente, 245, Tamarineira. Fone: 3269-3591

Pizzaria Atlântico – Avenida Rui Barbosa, 500, Graças. Fone: 3222-1877

Libório – Avenida Doutor Malaquias, 130, Aflitos. Fone: 3426-9719

Tepan – Rua Doutor José Maria, 151, Encruzilhada. Fone: 3427-4187

Cipó Nativo – Rua Doutor João Guilherme Pontes Sobrinho, 245, Boa Viagem. Fone: 3328-3999

Guaiamun Gigante – Doutor José de Goes, 299, Parnamirim. Fone: 3441-1509

Escândalos na Igreja

Escândalos na Igreja
Publicado em 11.04.2010 - Jornal do Commercio


Frei Aloísio Fragoso
O noticiário sobre escândalos na Igreja Católica volta a ocupar espaços da mídia, polêmico, repetitivo, devastador. Afora alguns poucos casos, não se trata de uma sucessão de novos delitos, trata-se, antes, de uma espécie de devassa de arquivos: fatos de 10, 20, 30, 60 anos atrás, redivivos, requentados, como se fossem da véspera, confirmando uma das mais velhas lições da História: "nada há de encoberto que não venha ser revelado" (MT. 10,26).

A Igreja Católica não faz exceção a uma péssima estratégia de grandes Instituições, a saber, arquivar graves pecados internos com o fim de evitar turbulências em sua imagem pública. Esforço inútil. Passam-se anos, séculos, milênios, algum dia a mão implacável da Justiça desenterra as vítimas e abre o seu clamor.

Ditas estas coisas, há outras também a serem levadas em conta. Uma delas é a manipulação dos números. Veja-se o exemplo mais recente da Irlanda: 15.000 casos de pedofilia. Eis aí um número de arrepiar a consciência coletiva e desmoralizar qualquer instituição religiosa. Contudo a mídia passa ao largo de outros dados. Trata-se de fatos acontecidos ao longo de 60 anos, em centenas de instituições de todo um país. Ao concluir-se o quadro estatístico geral, chegamos a números bem menos estarrecedores. Isso não vale como desculpa, pois a nossa indignação se fundamenta em razões de consciência, independente da quantidade de delitos.

No entanto, há segundas intenções na manipulação dos números. Toda Instituição religiosa, mesmo reconhecendo os seus próprios pecados, não pode recusar sua função de consciência moral da coletividade. Isso incomoda a um modelo de Economia e Sociedade que não admite limites morais para sua cupidez de lucro. Parte da mídia concentra-se na morbidez dos assuntos sexuais e cala-se frente aos desmandos de uma política econômica geradora da exclusão e da fome de milhões, em países mais pobres. Afinal, a vida de crianças inocentes exterminadas na guerra do Afeganistão e do Iraque também interpela a consciência humana, assim como as vítimas da pedofilia.

Que pese sobre os responsáveis pela Igreja Católica o dever de punir com o rigor da Justiça os seus ministros hierárquicos que atentaram contra crianças e adolescentes. Que a vergonha daí decorrente seja também sua penitência, enquanto o exigir a defesa das vítimas. Mas que não se generalize, transferindo-se a abjeção moral de crimes de pedofilia para a imagem de toda a Instituição. Nem se vincule a pedofilia ao celibato, pondo em cheque o sacerdócio católico, como se ele mesmo fosse gerador de pedófilos. A verdade é outra: são pedófilos que buscam abrigo ou esconderijo numa tradicional instituição religiosa. O erro grave de alguns bispos foi não ter sabido lidar com tais fatos.

Segundo a conceituada revista alemã "Herald Korrespondenz", de março deste ano, 90% dos casos de pedofilia no mundo acontecem dentro das famílias, envolvendo parentes. No meio do clero, 4% são acusados de envolvimento em tais crimes, segundo a mesma revista. Os outros 96% constituem uma proporção suficiente para refazer a credibilidade da Instituição, desde que ela se penitencie, aperfeiçoe seus métodos de seleção de candidatos ao clero e aprenda as lições que a História, mestra da vida, não cessa de proporcionar.

» Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano

Trágicos e tragicômicos

Trágicos e tragicômicos
Publicado em 11.04.2010 - Jornal do Commercio


Alberto Dines
Até agora, só catástrofes. Inundações e deslizamentos começaram ainda em dezembro de 2009 e completaram o primeiro quadrimestre do novo ano praticamente sem interrupção. Nos intervalos, dois tremendos terremotos: um no Haiti, outro no Chile. Para o comum dos mortais, o convívio forçado com as fatalidades desperta alguma solidariedade. A sociedade do espetáculo também sabe explorar a dor – em doses homeopáticas. Em excesso cansa, produz rejeição.

Diante da telinha da TV – vitrine da vida – as pessoas se comovem com a morte dos semelhantes, principalmente jovens, crianças e às vezes de famílias inteiras. Em letras de forma, ficam estarrecidos diante dos números. Até permitem-se chorar. Mas a sensação de que à volta está tudo bem e tudo no seu lugar é mais forte. Imbatível. Há grupos humanos mais vulneráveis ao sentimento trágico, outros se protegem com blindagens, despistes e estratagemas existenciais. Com medo de ter medo, assustados com a possibilidade de sofrer ou mesmo incomodar-se, preferem refugiar-se na convicção de que a vida é uma festa. Não sabem lidar com as noções de insegurança e imprevisibilidade, nem com a percepção de que tudo é mutável, imponderável.

Em sociedades como a nossa a função pública converte-se quase obrigatoriamente num exercício contínuo de celebrações. O escolhido pelos deuses – não importa o nível nem o sistema que o premiou – sente-se no dever de empunhar a batuta para reger uma comemoração contínua aos seus triunfos. Nos intervalos, faz reuniões, cria grupos de trabalho, ouve pareceres simpáticos, negocia apoios e assina decretos para obras destinadas a materializar as utopias pessoais.

Jorge Roberto Silveira, atual prefeito de Niterói, é um alcaide privilegiado. Está no seu terceiro mandato e ostenta uma árvore genealógica invejável: o tio, Badger Silveira, foi governador do antigo Estado do Rio de Janeiro tal como o seu pai, o carismático Roberto Silveira que morreu em 1961 na queda de um helicóptero justamente quando inspecionava os estragos causados por uma inundação no norte fluminense.

Graças ao prefeito Jorge Roberto, Niterói tem o terceiro melhor IDH do País, seu sistema de saúde pública é inovador, as reformas urbanísticas e arquitetônicas que implantou com a ajuda do amigo Oscar Niemeyer, sobretudo na orla marítima, tiraram da cidade a pecha de que o melhor dela era a vista para o Rio, no outro lado da Baía de Guanabara. E, no entanto, este competentíssimo e decentíssimo Jorge Roberto Silveira não deu atenção ao estudo que ele próprio encomendou em 2002 sobre o morro do Bumba onde 200 casas foram construídas em cima de um antigo lixão e agora esfarelaram-se encosta abaixo. Não se empolgue com as façanhas, preocupe-se com a fatalidade na primeira esquina – o conselho vale para astros e estrelas, líderes empresariais, políticos, esportivos mas vale, sobretudo, num sistema onde não há lugar para a prevenção nem ouvidos para alarmes.

A noção de que a república é uma festa e, por isso, é preciso dedicar-se continuamente à fabricação e inauguração de totens espetaculares tem muito a ver com a nossa aversão à tragédia. Não lemos Miguel de Unamuno, detestamos os pessimistas, temos horror ao ceticismo e às críticas. Como todos os ibéricos, somos quiméricos, quixotescos, mas recusamos encarar as sombras do dia seguinte, a realidade das tristes figuras.

Quando o ex-ministro e agora candidato a governador, Geddel Vieira Lima, reserva para a Bahia, 48% da verba do Programa de Prevenção e Preparação de Desastres não está sendo apenas insensível, desumano, perverso. Está cometendo um delito e se assumindo como homem público irresponsável. Confiante na impunidade, certo da sua infalibilidade, exibe as distorções mentais e morais daqueles que não se importam com tragédias. É um dos protagonistas típicos da nossa tragicomédia.

» Alberto Dines é jornalista

Nonsense ou bom senso?

Nonsense ou bom senso?
Publicado em 11.04.2010 - Jornal do Commercio


Dayse de Vasconcelos Mayer
dayse@hotlink.com.br

Não recordo dia e ano. Sei que era tempo de inverno nos EUA. O professor - um americano vestido com calça jeans, cabelo desalinhado e aspecto de cientista louco - ingressou na sala e formulou a seguinte pergunta: O que deve constituir prioridade para o prefeito de uma cidadezinha distante, pobre, pequena e abandonada: gastar os recursos públicos com a construção de uma estrada ou edificar uma escola? Munidos de papel e caneta tivemos uma hora para refletir sobre a resposta. Findo esse prazo, os trabalhos foram recolhidos. Com os papers na mão, o professor nem sequer passou os olhos pelos escritos. Limitou-se a rasgar rapidamente os trabalhos e deitar tudo na lixeira. Tudo sob o olhar incrédulo dos alunos. Depois comentou, deu uma enorme risada e comentou: não há verdades absolutas. Há alternativas fundadas no nonsense e no bom senso. O importante não é a resposta, mas a capacidade que lhes ofereci para reflexão sobre políticas de governo.

Tenho pensado nisso tudo a partir do excesso de crônicas já escritas sobre a área onde funciona a Tamarineira. Inicialmente pensei nos doentes que vivem naquele prédio. Recordo, a esse respeito, a galeria de grandes gênios que foram rotulados de insanos ou loucos pela história: Vincent Van Gogh, Edvard Munch, Pablo Picasso, Paul Gauguin, Lord Byron, Robert Shumann, Edgar Allan Poe. Este último admitiu que talvez a loucura se revelasse a forma mais refinada de inteligência. Platão usou argumento semelhante ao admitir a possibilidade de existência de uma loucura divina e imaginativa. Também o psicólogo Joy Paul Guilford definiu a criatividade como a capacidade de pensar de forma desconforme ou diferente perante uma situação problemática, rejeitar caminhos já esquadrinhados por outros e sugerir respostas invulgares ou criativas.

Na situação da Tamarineira, existe uma unanimidade. Mas sempre escutei que as unanimidades são perigosas. Por isso volto a pensar na história da construção da estrada ou da escola. A estrada conduz ao progresso, possibilita a construção de novos estabelecimentos, educacionais inclusive, estimula o crescimento de emprego e renda e facilita o progresso. Esta é a primeira linha de raciocínio. Imaginemos todavia a situação da Av. Conselheiro Rosa e Silva. É uma artéria nefanda sob o aspecto do tráfego e onde não há mais espaço para novas construções - grandes ou pequenas. A circulação de novos carros gerará o caos ou colapso total. Sem esquecer quando há jogo de futebol no campo do Náutico.

É hora, portanto, de pensar em alternativas para o aproveitamento não só do espaço da Tamarineira: construção de um novo shopping center com incremento do número de empregos com total indiferença pelo trânsito caótico? Edificação de uma área de lazer concorrendo para a paz, sossego e maior nível de oxigênio para os habitantes? Deixar tudo como está? Ensaiemos o raciocínio dois. Principiemos pelo Parque 13 de Maio, onde os estudantes da Faculdade de Direito do Recife ocupavam, na década de 60/70, os seus bancos para o namoro, sem medo de assaltos. Igualmente no Sítio da Trindade. O fecho provisório para a opção dois é fácil: pensar em parques e áreas de lazer implica a presença de gastos com manutenção da área, projetos urbanísticos, manutenção constante da vegetação, troca de mudas, contratação de seguranças, planejamento de estacionamento e, finalmente, de dotações próprias pelos poderes públicos.

As três linhas barram uma posição unívoca sobre o assunto. O que se revela inquestionável ou seguro é que a sociedade tem ou deve ser ouvida e exigir o que lhe parece essencial. Mas em tudo na vida há contrapartidas: ela também deve assumir a quota de responsabilidade pela alternativa ou alternativas escolhidas e pelos riscos da decisão. Emoção, aspirações, projetos de futuro são desejáveis, mas devem ser analisados com um mínimo de bom senso e distanciamento e sem qualquer sentimento de revanchismo.

» Dayse de Vasconcelos Mayer é advogada e docente universitária.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um devorador de livros...

"A gente era pobre. Distrações não havia. Os jovens de hoje se sentem miseráveis se não podem viajar nas férias. Eu nunca viajei. Viagem, na melhor das possibilidades, era para a casa de algum parente. A gente ficava era em casa mesmo, com um tempo preguiçoso e vazio à nossa frente. Que fazer com o tempo? Meu pai entrou de sócio para um "clube do livro". Todo mês chegava um livro novo. Eram uns livros feios - brochuras de papel jornal, as páginas vinham grudadas - que a gente tinha de ir abrindo com uma faca à medida que lia. Isso me irritava porque interrompia o ritmo da leitura. Como eu não tinha outra coisa para fazer e desejando ter os poderes da professora, tornei-me um devorador de livros. Os livros do clube do livro eram literatura adulta. Mas para mim não fazia diferença. Ler um livro que eu não entendia era como viajar por uma terra cuja língua me era desconhecida: perdia muita coisa mas, nos intervalos das incompreensões, havia os cenários. Tudo me espantava."

do texto Concertos de Leitura, do livro Entre a ciência e a sapiência - O dilema da educação - Rubem Alves, Edições Loyola

Treinamento para a vida

Treinamento para a vida
Publicado em 02.04.2010 - Jornal do Commercio - Recife


Lília Barbosa
O mundo atual é de uma dificuldade imensa. Competição, ferramentas de internet que aparecem a cada mês, necessidade de mestrados, MBAs, Ph.Ds. e outros tantos para ter uma vida profissional melhor. Isso sem falar que ainda nos lembram 24 horas por dia que temos de ter qualidade de vida e vida em família. Pergunto: como?

No entanto, há sim possibilidades de ter tudo isso: sucesso profissional, qualidade de vida e estar com a família. O que a maioria das pessoas não tem é disciplina com seu próprio tempo. Essa é a grande questão. Não existem viciados em trabalho. O que existe é falta de programação de prioridades, ou seja, ausência de foco e ação para fazer a coisa certa e não apenas aquilo que é confortável fazer.

Partindo desses pressupostos, o coaching é bastante antigo. Suas raízes podem ser percebidas claramente nas palavras dos grandes filósofos. Sócrates é um exemplo. O estilo socrático de ensinar não contemplava as respostas e sim os questionamentos, o modo de pensar e agir. O termo vem do inglês, cujo significado é treinar e desenvolver aptidões. A palavra tem sua origem vinculada aos esportes. Em 1996, Gallwey, professor de tênis, lançou o livro “O jogo interior do tênis.” Nele, demonstra os resultados que obteve em treinar de forma diferente dos técnicos da época. No lugar de dizer o que o jogador devia fazer, ele fazia perguntas que ampliavam a consciência da pessoa durante o jogo. Na concepção do autor, o maior adversário não é o seu oponente que está do outro lado da quadra e sim você próprio. E isso não é diferente no jogo da vida. Isso é coaching: um processo empresarial ou pessoal mais avançado que explora a capacidade individual, das equipes nas organizações e de seus líderes.

O coaching é um processo, com início, meio e fim, conduzido por profissional qualificado, numa relação de confiança, com vistas a alavancar o desempenho do indivíduo em sua vida pessoal, trabalho ou organização. O maior benefício do processo reside em levar a pessoa à ação. Esta ação pode envolver mudanças que promovem alterações de rotinas, celeridade na consecução das metas, como também transformações profundas do comportamento do indivíduo.

Como em todo e qualquer processo de mudança, o cerne está na vontade do indivíduo e em sua participação ativa no processo, permitindo-se experimentar novas experiências após as sessões. Se o indivíduo esquivar-se de agir e praticar suas “tarefas de mudança”, nada acontece. Ainda como parte central desta mudança, reside a atuação do profissional coach. Para conduzir o processo de coaching voltado para resultados tangíveis, exige-se formação específica, aliada à experiência em comportamento humano e conhecimento organizacional, principalmente quando a atuação é na área executiva.

O líder precisa entender o que é o processo de coaching, antes de dizer que atua como um coach em sua organização. Mas, em realidade, o que é verdadeiramente coaching? Coaching não é terapia, consultoria, aconselhamento, mentoria ou apenas treinamento. As diferenças falam por si.

Primeiro, a terapia é um tratamento clínico que não tem prazo para acabar, não é processo. Possui forte inclinação ao passado em contraposição ao coaching que não foca passado. A terapia tradicional envolve-se com doenças (depressão, síndrome do pânico, entre outras). O coaching atende a indivíduos funcionais que queiram melhorar ainda mais suas potencialidades. Nessa linha há forte correlação com a psicologia positiva preconizada por Martin Seligman, que trata especificamente de como os indivíduos podem ser mais felizes e plenos, se utilizarem o seu potencial ao máximo e desenvolverem suas capacidades.

A consultoria é a proposição de soluções para problemas identificados. O consultor aponta e sugere caminhos. O coach, por mais conhecimento que tenha sobre o objetivo trabalhado, precisa ter a disciplina de não usar estes conhecimentos para dizer o que o cliente deve fazer, mas sim expandir a consciência do cliente na identificação de alternativas, análise de cenários e riscos.

O aconselhamento é orientado para resolver problemas ou dificuldades, de forma pontual e ocasional. Há uma visão mais reativa que proativa. Segundo Hudson, autor do livro “The Handbook of Coaching”, coaching não é dar conselhos, não é consertar as coisas ou resolver problemas, mas enfatizar as forças do cliente e sua melhor utilização para alcançar os objetivos.

Treinamento é ensinar ou aperfeiçoar habilidades. No coaching desenvolve-se habilidades, criando um ambiente de aprendizagem. Daí a confusão com treinamento. Coaching é muito mais do que treinamento. É necessário criar um ambiente de confiança que desafia os atuais pressupostos, favorece as ideias, descortina novas possibilidades de comportamento e ação, desenvolve habilidades (caso específico do treino) e/ou remove bloqueios para haja a mudança efetiva.

A mentoria, segundo Kathy Kram, uma das maiores referências em pesquisa sobre mentoria no mundo, é um relacionamento que objetiva o desenvolvimento do indivíduo, no âmbito profissional e pessoal, com duas funções principais: função de carreira e função psicossocial.

Enquanto o coaching favorece diálogos que gera a reflexão, prática de novos comportamentos, com acompanhamento e identificação das evidências da mudança, tanto profissional como pessoalmente. No entanto, para se tornar um coach, o profissional precisa ser treinado para adquirir as técnicas e metodologia de intervenção para evitar resultados desastrosos. Se a profissão tem pontos em comum com as outras citadas, a mesma tem um lado definitivo de disciplina e interação com mútua confiança e profunda isenção, que pode não estar em outros procedimentos. Portanto, cuidado quando a consultoria ou um profissional diz que “faz coaching.” O coaching é estudado e praticado no mundo há mais de 30 anos, mas no Brasil a Sociedade Brasileira de Coaching tem apenas 10 anos. Como tudo o que é novo, todo cuidado é pouco!

» Lília Barbosa é diretora da Cozex Desenvolvimento Gerencial

Quarto de empregada

Quarto de empregada
Publicado em 02.04.2010 - Jornal do Commercio - Recife


Silvio Amorim
silvioamorim2008@hotmail.com

Ainda não vi um estudo sociológico, mais profundo, nos dias atuais, sobre o papel da empregada doméstica na formação da família brasileira. Essas mulheres, independentemente do grau de instrução, exercem uma grande influência nas patroas, patrões e filhos, normalmente alheios à importância dessa personagem central na vida familiar. São dínamos silenciosos dos quais eles somente sentem falta quando param. Trazem uma carga de experiência de vida, em geral, de muita luta e sacrifícios, diversa da realidade dos seus patrões.

Elas se afastam durante o dia ou por vários dias, de suas famílias, dos seus filhos, não tendo em suas casas quem as substituam, para cuidarem das famílias e dos filhos dos outros com toda dedicação e carinho. Em sua maioria, minimizam o banzo com eles.

Apesar da importância social e econômica da atividade, ora por abrigar mão de obra, ora por liberar os patrões para o mercado de trabalho, o tratamento dado a essas profissionais ainda tem resquícios da senzala, como registrou Gilberto Freyre em tempos idos, ao tratar das mucamas e amas de leite.

Identifico o quarto de empregada como o sinal mais evidente do tempo dos grilhões. Com raríssimas exceções, em geral esse quarto é minúsculo, muito diferente dos outros cômodos de dormir da residência. Por que? Como as prefeituras aprovam construções com um cômodo denominado nas plantas "dependência de empregada" em condições subumanas? Algumas plantas de apartamentos, expostas para a venda ainda acrescentam "dependência de empregada completa". Completa é a alienação e explicita a discriminação com a atividade e com suas profissionais.

Após realização de pesquisa na área identifiquei como recomendado para um mínimo de conforto nos cômodos previstos para dormitórios, as seguintes medidas mínimas: 2,50 m x 3 m para um padrão popular 3 m x 3 m para um padrão baixo, 3 m x 3,50 m para um padrão médio e 3,50 m x 4 m para um padrão alto. Constatei que, normalmente as medidas dos quartos de empregadas estão distantes do recomendado para o padrão popular.

Não satisfeitas com o latifúndio doméstico, em geral as patroas ainda descarregam tudo aquilo que não querem ver, mas não querem descartar, adivinhem onde? No quarto da "Maria". Aquela louça, cheia de pedaços tirados, que era da mamãe: "Bota no quarto da Maria". A primeira bicicleta do Júnior, que relíquia: "Pendura no teto do quarto de Maria". O pneu meia-vida, do carro de Paulo: "Encaixa debaixo da cama do quarto de Maria."

Enquanto o poder público não conseguir evitar a aprovação de construções com tais abusos e na impossibilidade de se ampliar o quarto da empregada, pode-se chamar um arquiteto, decorador ou desenhista e com imaginação e boa vontade tentar equacionar e racionalizar "a parte que lhe cabe neste latifúndio". Quanto às quinquilharias da patroa, sugiro mandar parte para a casa da sogra, sempre com espaço e coração abertos, mas que ela não vá guardar também no quarto de sua "Maria".

» Silvio Amorim é advogado, foi diretor da Rede Federal de Educação Tecnológica do Ministério da Educação-MEC