terça-feira, 30 de outubro de 2012

A reconciliação consigo mesmo

Reconciliar-se consigo mesmo é certamente a tarefa mais difícil. Vivemos quase sempre em luta com nossas próprias aspirações. Nós não podemos nos perdoar quando cometemos um erro que arranhe a nossa imagem exterior. Não podemos aceitar nossa história de vida. Nos rebelamos contra a educação que tivemos, por termos nascido em um dado momento da história mundial, por não podermos realizar nossos sonhos e por termos sido tão profundamente feridos quando crianças, que nosso desenvolvimento tenha sido impedido. Algumas pessoas passam toda a vida queixando-se e rebelando-se contra seu destino. Queixam-se até o fim de suas vidas de que seus pais não lhes teriam dado o amor de que necessitavam. Queixam-se da sociedade, que não lhes teria dado a chance que esperavam dela. Os culpados de sua miséria são sempre os outros. Sentem-se a vida inteira como vítimas. Com isto encontram uma desculpa para sua negação da vida. Recusam-se a reconciliar-se com sua história de vida e, ao mesmo tempo, negam-se a assumir a responsabilidade pela própria vida. E, por não assumirem nenhuma responsabilidade, também não estão preparados a assumir seu papel na sociedade. Permanecem constantemente sentados no banco das testemunhas de acusação. A culpa é sempre dos outros: do governo, do prefeito, das autoridades, da sociedade, da Igreja, da família. Por fim, com seus constantes protestos e queixas acabam por rejeitar a própria vida. Estas pessoas não vivem realmente, veem-se como acusadores diante de um tribunal, no qual querem julgar os outros, sem colocarem-se a si mesmos diante dele. Palcal Bruckner descreveu a "vitimização" - a postura de colocar-se constantemente como vítima e a recusa a assumir responsabilidades - como uma característica da nossa sociedade. A reconciliação consigo mesmo, ou a recusa da reconciliação também tem efeitos sociais e políticos.

Reconciliar-se consigo mesmo significa, em primeiro lugar, reconciliar-se com a história de vida pessoal. Não importa a época em que nascemos, sempre existirão situações que gostaríamos de ter evitado. A geração que nasceu na época da guerra vivenciou experiências ruins. Porém, os filhos do milagre econômico queixam-se, do mesmo modo, de que sua infância foi infeliz, de que seus pais, fascinados pelo dinheiro e pelo sucesso, os teriam neglicenciado. Os filhos da geração que viveu o movimento estudantil de 1968 acusam seus pais de terem, por pura rebeldia, se recusado a crescer e a assumir suas responsabilidades como pais. Não existe o momento ideal para nascer, assim como não existem os pais ideais que gostaríamos de ter. Mesmo que os pais estejam possuídos das melhores intenções, mesmo assim, os filhos serão magoados. Já nos relacionamento como nossos irmãos, vivenciamos que um deles é preferido e que somos desfavorecidos. Por mais que os pais sejam justos em seu amor, teremos sempre a sensação de que não somos amados do mesmo modo.

Anselm Grün - livro Perdoa a ti mesmo

sábado, 22 de setembro de 2012

Aceitação e Controle


"Não é fácil aceitar plenamente a outra pessoa, por mais que a amemos. O mapa de cada um encontra pontos de desacordo, que nem sempre são resolvidos por meio da compreensão e aceitação. Pelo contrário. Aparecem resistências que são recebidas com ainda mais resistência. É melhor aceitar as diferenças do que viver em desigualdade. Mas existem aqueles que estão empenhados em fazer com que os outros sejam iguais a eles. Por isso tentam moldar os outros à sua imagem e semelhança, à custa de desconstruí-los. E, o primeiro modo para conseguir isso é fazendo-os se sentirem culpados de ser como são. O poder e o controle muitas vezes fazem com que se diminua o outro à sua mínima expressão."

do livro Viva melhor - reflexões para aqueles que se controlam demais - Xavier Guix