sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um devorador de livros...

"A gente era pobre. Distrações não havia. Os jovens de hoje se sentem miseráveis se não podem viajar nas férias. Eu nunca viajei. Viagem, na melhor das possibilidades, era para a casa de algum parente. A gente ficava era em casa mesmo, com um tempo preguiçoso e vazio à nossa frente. Que fazer com o tempo? Meu pai entrou de sócio para um "clube do livro". Todo mês chegava um livro novo. Eram uns livros feios - brochuras de papel jornal, as páginas vinham grudadas - que a gente tinha de ir abrindo com uma faca à medida que lia. Isso me irritava porque interrompia o ritmo da leitura. Como eu não tinha outra coisa para fazer e desejando ter os poderes da professora, tornei-me um devorador de livros. Os livros do clube do livro eram literatura adulta. Mas para mim não fazia diferença. Ler um livro que eu não entendia era como viajar por uma terra cuja língua me era desconhecida: perdia muita coisa mas, nos intervalos das incompreensões, havia os cenários. Tudo me espantava."

do texto Concertos de Leitura, do livro Entre a ciência e a sapiência - O dilema da educação - Rubem Alves, Edições Loyola

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