domingo, 11 de abril de 2010

Nonsense ou bom senso?

Nonsense ou bom senso?
Publicado em 11.04.2010 - Jornal do Commercio


Dayse de Vasconcelos Mayer
dayse@hotlink.com.br

Não recordo dia e ano. Sei que era tempo de inverno nos EUA. O professor - um americano vestido com calça jeans, cabelo desalinhado e aspecto de cientista louco - ingressou na sala e formulou a seguinte pergunta: O que deve constituir prioridade para o prefeito de uma cidadezinha distante, pobre, pequena e abandonada: gastar os recursos públicos com a construção de uma estrada ou edificar uma escola? Munidos de papel e caneta tivemos uma hora para refletir sobre a resposta. Findo esse prazo, os trabalhos foram recolhidos. Com os papers na mão, o professor nem sequer passou os olhos pelos escritos. Limitou-se a rasgar rapidamente os trabalhos e deitar tudo na lixeira. Tudo sob o olhar incrédulo dos alunos. Depois comentou, deu uma enorme risada e comentou: não há verdades absolutas. Há alternativas fundadas no nonsense e no bom senso. O importante não é a resposta, mas a capacidade que lhes ofereci para reflexão sobre políticas de governo.

Tenho pensado nisso tudo a partir do excesso de crônicas já escritas sobre a área onde funciona a Tamarineira. Inicialmente pensei nos doentes que vivem naquele prédio. Recordo, a esse respeito, a galeria de grandes gênios que foram rotulados de insanos ou loucos pela história: Vincent Van Gogh, Edvard Munch, Pablo Picasso, Paul Gauguin, Lord Byron, Robert Shumann, Edgar Allan Poe. Este último admitiu que talvez a loucura se revelasse a forma mais refinada de inteligência. Platão usou argumento semelhante ao admitir a possibilidade de existência de uma loucura divina e imaginativa. Também o psicólogo Joy Paul Guilford definiu a criatividade como a capacidade de pensar de forma desconforme ou diferente perante uma situação problemática, rejeitar caminhos já esquadrinhados por outros e sugerir respostas invulgares ou criativas.

Na situação da Tamarineira, existe uma unanimidade. Mas sempre escutei que as unanimidades são perigosas. Por isso volto a pensar na história da construção da estrada ou da escola. A estrada conduz ao progresso, possibilita a construção de novos estabelecimentos, educacionais inclusive, estimula o crescimento de emprego e renda e facilita o progresso. Esta é a primeira linha de raciocínio. Imaginemos todavia a situação da Av. Conselheiro Rosa e Silva. É uma artéria nefanda sob o aspecto do tráfego e onde não há mais espaço para novas construções - grandes ou pequenas. A circulação de novos carros gerará o caos ou colapso total. Sem esquecer quando há jogo de futebol no campo do Náutico.

É hora, portanto, de pensar em alternativas para o aproveitamento não só do espaço da Tamarineira: construção de um novo shopping center com incremento do número de empregos com total indiferença pelo trânsito caótico? Edificação de uma área de lazer concorrendo para a paz, sossego e maior nível de oxigênio para os habitantes? Deixar tudo como está? Ensaiemos o raciocínio dois. Principiemos pelo Parque 13 de Maio, onde os estudantes da Faculdade de Direito do Recife ocupavam, na década de 60/70, os seus bancos para o namoro, sem medo de assaltos. Igualmente no Sítio da Trindade. O fecho provisório para a opção dois é fácil: pensar em parques e áreas de lazer implica a presença de gastos com manutenção da área, projetos urbanísticos, manutenção constante da vegetação, troca de mudas, contratação de seguranças, planejamento de estacionamento e, finalmente, de dotações próprias pelos poderes públicos.

As três linhas barram uma posição unívoca sobre o assunto. O que se revela inquestionável ou seguro é que a sociedade tem ou deve ser ouvida e exigir o que lhe parece essencial. Mas em tudo na vida há contrapartidas: ela também deve assumir a quota de responsabilidade pela alternativa ou alternativas escolhidas e pelos riscos da decisão. Emoção, aspirações, projetos de futuro são desejáveis, mas devem ser analisados com um mínimo de bom senso e distanciamento e sem qualquer sentimento de revanchismo.

» Dayse de Vasconcelos Mayer é advogada e docente universitária.

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