domingo, 4 de julho de 2010

O País da bola

O País da bola


Publicado em 04.07.2010

Dom Edvaldo G. Amaral


Se um desavisado estrangeiro, não antenado com as notícias esportivas do mundo, chegasse nesses dias ao nosso País, julgaria que estávamos celebrando importante data cívica, o descobrimento, a independência, a proclamação da república ou coisa assim. O País todo ornamentado de bandeiras nacionais, o povo vestido com as cores nacionais, enfim, aos olhos do turista estrangeiro, deveria tratar-se da comemoração de um megaevento nacional, uma excepcional celebração cívica.

Como bom brasileiro que pretendo ser, não sou contra o futebol. Mas não consigo compreender que um esporte, por mais "nacional" que seja, se transforme em extraordinária celebração cívica. Que uma partida de futebol numa Copa mundial seja alçada ao nível de um culto à Pátria, que a ela se dê o sentido de civismo e uma decisão esportiva seja algo que interesse ao futuro da Nação e tenha graves consequências para o progresso nacional. Acho que há algo de exagero em tudo isso. "É o Brasil inteiro acompanhando a narração dos locutores" - dizia entusiasmado um deles. Até a devoção a Santo Antônio, o santo mais popular do Brasil, desta vez no domingo 13 de junho, foi invocada para proteger o desempenho de nossos jogadores na partida de abertura da participação brasileira desta Copa do Mundo na África do Sul.




Acho que há um entusiasmo fora das medidas. Quando nosso país precisa trabalhar muito para vencer o subdesenvolvimento, a nossa juventude tem que estudar muito mais para se preparar para um futuro melhor, penso que nossas energias não deveriam aplicar-se tanto ao futebol e à torcida pelas vitórias esportivas...

O futebol no Brasil de hoje é o verdadeiro ópio do povo. Esquecem-se grandes problemas nacionais, esquecem-se assuntos graves de interesse nacional e pensa-se só em futebol. Há exagero, sim.

Que o Senhor, nosso Deus, tenha compaixão deste país da bola. Ou para estar mais atualizado com esta Copa africana, diga-se é o País da jabulani... Que Ele abençoe nossos craques, representantes de nossos futebol em terras africanas, mas sobretudo a nós, os torcedores. Faça com que o País da bola seja campeão da ética na política, campeão dos valores cristãos para nossa juventude, tão esportiva e menos preocupada com a seriedade da vida.

» Dom Edvaldo Amaral é arcebispo emérito de Maceió

Fonte: Jornal do Commercio - 04 de julho de 2010

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