domingo, 20 de março de 2011

Incontinência Verbal


Incontinência Verbal



Você conhece alguém que fala mais do que deve? Você fala mais do que deve?  Já se arrependeu de ter dito alguma coisa? Pois é, sofremos de incontinência verbal.

É antigo o ditado que nos lembra de que temos uma boca e dois ouvidos. Que devemos ouvir mais e falar menos. Mas isso não é fácil.

 Dia desses, uma amiga da minha mãe ligou para ela e, ao ouvir as reclamações de que a mão estava formigando e avermelhada, disse que era urgente que fosse ao hospital, que poderia ser algo  muito grave, que o pai teve que amputar a mão em situação semelhante. A mesma amiga, em outra ocasião, ao perceber que minha mãe estava esquecida, não se conteve em dizer que provavelmente ela estava com Alzheimer. A amiga não é médica. Errou nos dois diagnósticos,  mas conseguiu deixar minha mãe profundamente preocupada. Fez por mal? Certamente não. Incontinência verbal.

 Tenho um amigo que não perde o costume de estragar surpresas. “Estão preparando uma festa de aniversário para você”. E prossegue: “Finja que não sabe de nada, só falei para não te deixar preocupado”. Preocupado? Com o quê?

 Há aqueles que fazem “fofocas cristãs”. “Eu preciso lhe contar uma coisa muita séria (e aí vem a fofoca), só contei para que você reze por ela”.

 Em momentos de briga, fala-se muita coisa desnecessariamente. Lembranças ruins do passado. Acusações bobas. “Nunca me esqueço! Faz 40 anos, mas eu nunca me esqueço de quando você me chamou de burra. Estávamos casados há um ano”. Ou ainda: “Eu o avisei, mais uma namorada que abandona você. Eu disse que as mulheres que o conhecem acabam indo embora. Só falo isso porque sou seu amigo”.

 Em uma mesa de conversa, sempre há aquele que ouviu alguma história e sem a menor preocupação com a verdade fala: “Eu ouvi dizer que fulano é caloteiro. Não quero ser injusto, não gosto de fofoca, mas me parece que ele não paga ninguém”.
 É atribuído a Sócrates um diálogo em que os seus discípulos vieram falar sobre a vida dos outros e ele perguntou, ensinando: “Vocês já passaram pelos três crivos antes de me contar?”  Os crivos são verdade, bondade e necessidade. “É verdade? Vocês têm provas? É bom? Não vão magoar ninguém?  É necessário? Tem alguma coisa a ver com a vida de vocês ou com o bem público? E os discípulos se calaram, e Sócrates voltou a falar de filosofia.

 A palavra tem poder. Que esse poder seja usado para fazer o bem. Palavras ditas sem amor podem ferir.

 Que tal pensarmos antes de falar? Que tal fazermos a experiência do ouvir mais, para aprender, e falar apenas o necessário, para ensinar?

 Gabriel Chalita ( Revista Canção Nova – março de 2011)
http://blog.cancaonova.com/gabrielchalita/2011/02/24/incontinencia-verbal/

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