sábado, 11 de dezembro de 2010

Que se fortaleçam as interações! - Setor Público

Que se fortaleçam as interações! 
O convívio e a troca de informações entre órgãos do setor público e universidades devem ser incentivados para melhorar a capacitação dos funcionários e o serviço prestado ao cidadão 

Heitor Chagas* 

Faz algum tempo que os governos vêm retomando a necessária providência de admitir pessoas por meio de concursos públicos. Ficou evidente ser preciso prover os órgãos de recursos adequados, inclusive de pessoas, nas funções e tarefas em que são insubstituíveis. São custos de pessoal que não podem permanecer supostamente reprimidos. Claro que não falo de empreguismo. Ninguém com um mínimo de senso defenderia isso. O serviço público tem uma dimensão que certa mentalidade retrógrada vem mantendo ignorada. Há que gastar dinheiro público, orçado para pagar pessoal competente. Alguns aspectos, entretanto, precisam ser reiterados pela necessária afirmação que segue sistematicamente esquecida: serviço público é serviço ao público, conforme insistia o inesquecível Ministro Helio Beltrão. Desde o mais simples servidor até o que tenha nível de formação acadêmica, com os mais elevados destaques técnicos, de qualquer dos campos do conhecimento, nenhum pode deixar de ter em seus compromissos, nem nas regras a que terão de se submeter, o objetivo fundamental de servir ao público. Servidores do público. Selecionados para isso. Admitidos por seus méritos, sem favoritismos ou outros defeitos éticos.

Acontece que às vezes ocorrem distorções. Parece que, por alguma ingênua razão, há pessoas que se arrogam direitos ou status completamente incorretos e assumem a imagem de verdadeiros potentados - principalmente quando são escolhidas para o exercício de uma chefia ou gerência. Com certeza, por serem escolhidas para tais funções, terão de ser pessoas de nível intelectual e de preparo técnico os mais adequados. Mas também de características pessoais que as credenciem a coordenar grupos, tomar decisões e garantir o atendimento respeitoso dos direitos das pessoas. Por melhor que tenha sido sua classificação no processo seletivo, não poderão assumir nenhuma atitude que as distancie dos fatos que caracterizam a realidade socioeconômica e cultural a que vão servir. A que têm de servir. Os órgãos ou entidades que as admitiram foram criados para alguma finalidade que justifique sua existência. Tal finalidade é, antes de tudo, parte do grande conceito fundador da República. É obvio: a coisa pública. O compromisso com o público, que não tem alternativa: não pode escolher fornecedor. E paga impostos para financiar o Estado que lhe deve prestar o serviço que corresponda a sua contribuição tributária.

Há, porém, algo muito mais atual a afirmar: o Brasil é um país que se renova, que continua crescendo e que incorpora a cada dia novas exigências, inclusive as não escritas. O país precisa de instrumentos que informem adequadamente aos seus servidores quais são tais novas necessidades. É preciso ajudá-los a ser melhores no desempenho de suas funções de servir. Devem ser atualizados, não apenas nos saberes acadêmicos. Eles precisam entrar em sintonia com as realidades que os envolvem. As realidades de seu público cliente, dos cidadãos contribuintes, dos cidadãos carentes de ajuda.  O que é que, de fato, há de novo ou de frequente nos últimos tempos ao redor do que se faz em uma organização pública? Há realidades que fogem ao controle dos dirigentes públicos, há fatos que não se sabe onde nasceram.

Troca de informação
Conhecer tais realidades e ficar sabendo como tratá-las é um dos deveres dos servidores e de seus dirigentes. É algo a ser tratado e transmitido em programas de treinamento ou de capacitação que os mantenham atualizados. São novas leis, são novos direitos, novas exigências e novas maneiras de relacionamento com a sociedade? Atualizar é preciso.Nem todos os conteúdos dos programas de ensino ou treinamento precisam ter origem nas novidades legais, ou das ciências, nem mesmo na ciência da administração. Mas tem de ser criada, como prática, a garantia da atualização dos servidores. Há técnicas e métodos desenvolvidos em outros lugares, outros países, outras organizações. Há as possibilidades de convívio e de troca de informações com outros órgãos e com universidades ou consultorias especializadas. Obter serviços de muito bom conteúdo de consultores de qualquer dessas origens pode ter um custo adicional. Não faz mal. É preciso saber como os fatos são enfrentados pelas inovações dos tempos mais recentes. Que se institucionalizem as interações!

Faz tempo que foram criados centros de treinamento, escolas ou universidades corporativas. O exercício das melhores técnicas de administração exigia que se instaurasse um ambiente propício à educação continuada. E não faltaram autores e executivos que dessem total apoio à idéia. Há ótimas instituições de educação continuada no ambiente da administração pública. Mas há aprendizagens necessárias que somente se darão com metodologias diferenciadas, nas quais uns ensinam aos outros o que fazem e uns aprendem com os outros que interfaces existem, ainda que indiretas, entre seu trabalho e o dos outros. É preciso incluir a busca de saber e de ter consciência sobre as interfaces, sobre a malha de relações de interdependência entre as diversas funções e as potencialidades de colaboração interna, indispensável para as melhorias necessárias ao aperfeiçoamento do atendimento às necessidades do público. As melhorias são as inovações necessárias. Essas inovações somente surgem de uma cultura interna de sinergia.

Heitor Chagas é autor de O jogo da malha - Recursos Humanos e conectividade (Editora Qualitymark), consultor da Petrobras e membro da Academia Brasileira de Ciência da Administração



http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=13015

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